É visível que, em épocas de crise, a democracia pode vir a se tornar frágil, já que muitos se tornam descrentes no sistema político e clamam por medidas antidemocráticas- com as quais muitos setores se identificam. Esse é um contexto propício ao surgimento de discursos autoritários e de ódio vindos de figuras vistas como a “salvação nacional”. Dessa forma, conquistam a população com frases prontas, bordões, com a defesa dos “valores tradicionais” e com discursos nacionalistas (nem tanto) de combate à violência e à corrupção. E, assim, atraem seguidores que creem nessa figura como um antipolítico, como um antisistêmico que supostamente representa uma nova política, sem ter, de fato, projetos de governo concretos que visem solucionar a situação. Ou seja, ocorre uma personificação da política. Tal fenômeno pode ser explicado segundo a visão da filósofa Marilena Chauí, para a qual é necessário impedir a identificação do poder político com o governante, ou seja, combater a personalização da política.
Também é necessário analisar que a corrupção não está restrita a um único partido, muito pelo contrário. Logo, o discurso de combate à corrupção deveria ser aplicado em todo partido. Além disso, o discurso de combate à violência não é destinado apenas àqueles que cometem crimes, mas também aos opositores, às minorias e a qualquer um que manifeste ideologias contrárias. Isso fica mais evidente com os recentes casos de violência e agressão ocorridos.
Por fim, é preciso analisar que o Brasil possui uma herança colonial, escravista, patriarcal e autoritária ainda não superada. Foi um país cuja economia ergueu-se sobre a violência e o extermínio dos povos indígenas e dos escravos africanos. E, mais tarde, um país que anistiou torturadores e ditadores e que permite exaltações aos mesmos. Consequentemente, um povo que não relembra, que não critica e que não debate sobre a história de seu país está condenado a repetir os mesmos erros do passado.
Disponível em: https://www.panelaspernambuco.com/2010/08/charges-politicas.html.