que me bloqueou; no jazz eu sei que acordes é que tenho que tocar, mas a decisão está a ser tomada em tempo real, não há a ideia de erro. Talvez haja no solo, mas como é improvisado posso decidir como solucionar o erro do solo, pode não ser claramente um erro visto de fora, ninguém conhece o meu solo. Essa tomada de decisão em tempo real foi o ponto de partida para mim do início do desbloqueio. Depois disso a questão foi levar esse raciocínio para algo que já estava definido anteriormente. Para mim isso passou por um livro muito específico que se chama The inter game of Music( ver caixa).
Antes quando estava a tocar pensava ativamente em acertar e no que é que as pessoas estariam a pensar.
AA: Isso criava-te ansiedade. IL: Claro, e mais do que isso: é impossível fazer música se estás a pensar assim. A partir do momento em que, também com a ajuda do meu professor de clássico, me comecei a focar na interpretação e não nas notas, passei a acertar as notas, houve uma diferença enorme. O mesmo aconteceu em relação ao jazz: quando parei de pensar se o meu solo estava a ser bom ou não enquanto estava a tocá-lo, e simplesmente ouvia a música e pensava só em música, os meus solos ficaram logo muito melhores, portanto acho que há aqui um lado consciente. Teria feito este processo se não tivesse passado pela improvisação? Provavelmente não.
AA: Muito obrigada, Inês. IL: Obrigada eu pela entrevista, por poder dizer estas coisas que são muito importantes para mim. Fico contente que haja mais pessoas preocupadas com estas questões. É preciso mudar o que precisa de ser mudado, e acho que temos todos a ganhar, alunos, professores, músicos e público, em pensar de forma um bocadinho diferente.
“ Originalmente foi escrito o The inter game of Tennis que fala sobre o jogo interno, sobre o jogo mental por detrás do jogo de ténis. Qualquer pessoa que jogue este tipo de jogos individuais sabe que tendemos a ganhar vários pontos de seguida ou a perder vários pontos de seguida, o que tem a ver com a forma como o cérebro afeta a nossa performance. Houve um músico, o Barry Green, que foi ter com o autor do The Inner game of Tennis e associou-se a ele para escrever o The inter game of Music porque achou que havia um paralelo entre as duas coisas. A nossa performance musical é afetada pela forma como o nosso cérebro pensa nisso e então o autor faz uma equação que é: a nossa performance é igual ao potencial menos a interferência que nós permitimos que aconteça. Portanto se tivermos um potencial de 100 e uma interferência de 90 a nossa performance vai ser um 10, o que não quer dizer que valemos um 10, quer dizer que estamos com interferência a mais. A partir do momento em que comecei a pensar nisto, comecei a fazer exercícios conscientes, ou seja, a tomar a decisão consciente de ignorar essa interferência, não ligar, não ouvir, não interessa o que é que as pessoas estão a pensar”.
34 andamento | verão 2021