Andamento #1 Conservatório de Música de Sintra | Page 64

Acho que há apenas um equívoco- e não é só no ensino da música- de dissociar o lúdico da exigência. Como se para se ser exigente não se possa deixar o aluno divertir-se. Isto é um grande equívoco.(...) Temos que garantir que o aluno está a lidar com a dificuldade, mas que não é um sofrimento”. à improvisação resultou de um convite do Conservatório Nacional durante o meu estágio. Já sabiam que estava a escrever a tese sobre esta matéria e a diretora Lilian Kopke chamou--me para fazer esta oficina. A ideia era fazer uma oficina de introdução à improvisação jazz e música moderna. Entretanto a oficina já se repetiu algumas vezes e está a decorrer outra agora( esta entrevista decorreu em maio), com outros alunos. Na minha abordagem não estou a contar que aqueles alunos vão seguir jazz. Estou a usar jazz, estou a ensinar-lhes como é a abordagem jazz, como funciona aquele pensamento, mas tento sempre mostrar-lhes para que é que lhes pode servir. Tenho sentido que as oficinas são bastante úteis. É uma disciplina de grupo e, não só o jazz e a música moderna são mais próximos da linguagem que os alunos conhecem do que a música contemporânea, como eles estão lá por escolha, enquanto que a outra disciplina fazia parte do currículo. É um facto que não apanho alunos desmotivados, e sim alunos que estão a contactar com uma música que lhes é mais próxima, e escolheram estar ali, e claro que isso altera logo a predisposição e o sucesso. É verdade que sinto que tem ajudado, que tem sido benéfico, mas precisava de fazer esta ressalva porque dizer simplesmente que o problema estava na abordagem seria muito injusto.

AA: O perfecionismo necessário para a execução de obras clássicas pode criar nos alunos muita resistência em relação ao erro e bloqueá-los criando experiências musicais traumáticas. Consideras que o uso da improvisação pode ser benéfico para contrariar estes bloqueios? IL: Sim, absolutamente. Para mim foi muito importante e isso é uma das coisas que estou a trabalhar na oficina. Uso a improvisação e o exercício para chegar aí. Não é óbvio que seja a improvisação o ponto, acho é que o pensamento que nos leva à improvisação liberta-nos logo um pouco. De uma forma mais específica, numa fase em que ainda tinha imensos bloqueios, lembro-me que o meu professor de clássico, o João Vasco, que me dava aulas enquanto eu estava a estudar jazz no Hot Club e prestes a fazer provas para a licenciatura em piano jazz na Escola Superior de Música de Lisboa, dizer-me na ocasião de uma audição que podia tocar a sonata de Mozart que estava a trabalhar e um dos temas de jazz que ia levar para as provas da Superior. Fiz a audição, e ele disse-me que a minha postura corporal mudou drasticamente quando parei de tocar a sonata de Mozart e comecei a tocar o Granada, do Chris Cheek. Na altura ficámos os dois a pensar no porquê dessa mudança e lembro-me de lhe dizer que achava que era porque no clássico as notas já estão decididas previamente, e estou o tempo todo em pânico para tocar aquela nota no momento e no sítio certo e foi essa exigência
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