dificuldade é que é divertido é muitas vezes incutida pelo professor e depois ficamos muito surpreendidos quando os alunos com dificuldades desistem. Nós é que de certa maneira os viciámos a associar isso assim: não pode ser sempre divertido, hoje tem que ser mais difícil. Mas porque é que não pode ser difícil e divertido? Não percebo, mas percebo. 99 % dos professores que tive pensavam assim, em qualquer área. A verdade é que se nós pensarmos nos nossos professores favoritos, nunca são os professores moles, mas também não são os professores super duros e maus. Eu já tive mais do que um aluno a dizer-me que acha que eu não sou exigente porque sou porreira, ou seja aquilo que lhe foi dito é que quando é exigente não é divertido. E eu pergunto-lhe:“ Não achas que eu puxo por ti? Achas que é fácil a aula?” E ele:“ Não, nada!” E eu:“ Então está tudo bem.”.
AA: O aluno evolui quase sem querer porque é levado … IL: Eles notam. Pelo menos nas minhas aulas sentem as dificuldades e a aula não é sempre divertida. Lidar com a frustração é uma parte integrante destas aulas, seja qual for o estilo do exercício que estivermos a trabalhar, seja improvisação, seja uma peça clássica. É difícil lidarmos com os nossos falhanços e é difícil a superação, mas não tem de ser horrível, não tem que ser um sacrifício, temos que conseguir que os alunos lidem com isso com naturalidade.
AA: A propósito do teu mestrado, estiveste a assistir a aulas de improvisação no Conservatório Nacional que eram baseadas em música atonal e contemporânea. Depois criaste um seminário baseado em improvisação mais associada à música tonal e ao jazz. Que conclusões retiraste em relação às duas abordagens musicais a que assististe, que tipos de improvisação é que achaste que funcionaram melhor? IL: É uma pergunta muito abrangente. Em relação às aulas a que assisti durante o meu estágio- dadas pelo professor( Jorge) Sá Machado, violoncelista que faz parte do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa já há muitos anos e que é um músico por quem tenho um enorme respeito- inicialmente não tinham um programa definido. Chegaram a ser seminários de jazz, a disciplina chamava-se Projetos Coletivos e Improvisação e tem mudado ao longo dos anos. Mais recentemente, desde que o professor Jorge pegou na disciplina, usa-a como uma aproximação à música contemporânea. Faz um pouco daquilo que eu estava a dizer no início sobre a improvisação, como uma aproximação a uma determinada linguagem. Ouve música com os alunos, uma interpretação da peça que vão tocar, faz uma análise formal das peças e depois tenta que eles improvisem, porque uma boa parte das peças contemporâneas escolhidas por ele tinham espaço para a improvisação. A dificuldade que senti que existia nas aulas do professor é que os alunos não tinham contacto com aquele tipo de música, com aquela linguagem, e isso notava-se na recetividade que tinham às propostas do professor e no sucesso das improvisações. Era tudo muito abstrato para eles. A música atonal não é a música que se ouve na rádio e as aulas eram muito curtas. Senti que a abordagem do professor era a correta, mas naquele curto espaço de tempo era muito difícil. Houve evolução ao longo do ano e os alunos foram-se soltando e acreditando, mas precisavam de mais contacto do que apenas aquele, para uma linguagem que é tão distante à deles. A minha oficina de introdução
32 andamento | verão 2021