ideia de que temos um programa definido. O programa tem de ser desafiante. Claro que dentro de todos os graus há um leque de peças que podemos escolher, mas é muito importante percebermos o aluno que temos à frente; se ele tiver muita dificuldade não podemos fazer com o ele o que fazemos com o aluno que não tem dificuldades. Temos mesmo que garantir que adaptamos o programa e que adaptamos a abordagem para que seja igualmente desafiante para o aluno com maior facilidade e para o aluno com menor facilidade. Se for tudo demasiado fácil para o aluno, o erro é do professor pois não está a desafiá-lo o suficiente; por outro lado, se o aluno nunca conseguir fazer nada, o erro também é do professor por estar a dar desafios que não são alcançáveis para ele naquele momento. Temos que conseguir encontrar esse ponto, eu sei que há uma estrutura e percebo a sua necessidade, mas acho que temos que saber estar atentos e adaptarmo-nos aos alunos que temos à frente.
AA: Até porque há uma série de atividades musicais que são importantíssimas, coisas extra repertório, escalas ou arpejos, atividades que são mesmo importantes para a formação do aluno como músico e não como máquina de preparação de repertório. Acho que é um problema o facto do ensino ter que ser rápido, o aluno tem que ser rápido a aprender as peças, há uma espécie de pressa para transformar o aluno em músico. IL: A questão é que não dá para pensar nos objetivos se não pensarmos corretamente no percurso. O que acho que deve ser o nosso maior objetivo enquanto professores é cumprir o potencial que aquele aluno tenha, fazer aquele aluno brilhar o mais possível, chegar o mais longe possível, mas isso implica pegar nele e não numa ideia pré-concebida. Mesmo que tenhamos que cumprir uma determinada estrutura, há bastante flexibilidade para conseguirmos garantir que aquele aluno,- seja inseguro, tenha tido menos contacto, o que quer que seja- após a escolha das peças adequadas, possa retirar o máximo possível das aulas que está a ter de música. Isto depois terá um paralelo para o resto da vida. Se fizermos bem o nosso trabalho eles serão crianças, adolescentes e adultos um bocadinho mais felizes e um bocadinho mais capazes em tudo o resto. Por isso mesmo é uma responsabilidade tremenda, mas que vale imenso a pena, apesar de gastarmos um pouco mais de energia com as aulas.
AA: Sem dúvida. Tenho o caso de vários pais de alunos que me disseram que tiveram a oportunidade de estudar música em conservatório, mas que se desmotivaram devido à rigidez das aulas. As aulas eram tão exigentes e tão focadas na parte técnica que aquela parte lúdica associada ao ato de fazer música era completamente colocada de parte. Estes pais acabaram por dar uma segunda hipótese ao ensino musical e inscrever os filhos, porque perceberam que a situação já não era a mesma que eles viveram. IL: Acho que há apenas um equívoco- e não é só no ensino da música- de dissociar o lúdico da exigência. Como se para se ser exigente não se possa deixar o aluno divertir-se, e a mesma coisa ao contrário, se o professor quer que o aluno se divirta não pode ser exigente. Isto é um grande equívoco, não devem na minha opinião estar dissociados. Posso ser muito exigente e divertida com os meus alunos. Eu quero que o aluno se divirta, mas não quero que relaxe, que fique mole, que não seja exigente consigo próprio, que não tenha capacidade de superar dificuldades. Temos que garantir que o aluno está a lidar com a dificuldade, mas que não é um sofrimento. Aliás, a ideia de que só se não tiver
conservatório de música de sintra
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