Andamento #1 Conservatório de Música de Sintra | Page 56

do ponto de vista do professor o que ele fez comigo quando eu era aluna. AA: Foi a experiência completa. IL: Sim, houve um fechar do ciclo. Estava particularmente empenhada em ser boa aluna já no mestrado, para lhe provar que aquele investimento tinha valido a pena. Valorizo imenso o que fez por mim e acho que me inspirará sempre a tentar ser igualmente especial para os meus alunos, sobretudo para quem tem dificuldades ou possa ter bloqueios. Numa aula individual há um grande potencial de influenciar um aluno positivamente e é ao mesmo tempo uma grande responsabilidade que não pode ser levada com leveza, e uma oportunidade incrível.
AA: O conservatório ainda é influenciado pelo ensino musical do período romântico, é um ensino bastante rígido e com pouco foco na dimensão pessoal. Com o surgir de novas formas de pensamento, como por exemplo a da Teoria de Aprendizagem Musical de Edwin Gordon e de muitos mais teóricos, tem sido possível sensibilizar mais os profissionais do ensino para esse lado, para o lado pessoal e humano.
Sentes que essa dimensão é a base do ensino musical? IL: Eu sinto que sim, não sinto que isso esteja estabelecido de todo no ensino. Estavas a falar do Gordon... mesmo os testes de aptidão musical baseados no Gordon têm o problema à partida de testar o aluno num só momento, sem comparação, sem contexto, avaliando se está a tocar bem, sem fazer ideia do seu real potencial enquanto aluno. Só seria possível avaliar o potencial do aluno- mas implicaria um maior investimento por parte dos professores e das escolas- se separássemos a avaliação em, pelo menos, dois momentos, e a verdadeira nota do aluno fosse feita com base na comparação entre o primeiro e o segundo momentos e não uma avaliação direta a partir da ideia de que se tocou bem vale“ x”. Isso é um equívoco muito grande. Acho que consigo perceber melhor um aluno, mesmo que seja muito fraco, se puder ouvi-lo tocar uma vez, dar--lhe algumas indicações para trabalhar em casa, e daí a uma semana ouvi-lo novamente e ele tocar de uma forma completamente diferente. Esse é um aluno que eu quero. Se ele era muito fraco e no espaço de uma semana é um aluno mediano

(...) um bom professor tem que jogar nestas três frentes: paixão, contacto e personalidade. Se tiver um aluno que tem o contacto e que adora música, mas tem uma enorme falta de confiança, não gosta de arriscar, é aí que eu vou focar a minha atenção enquanto professora.

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