Andamento #1 Conservatório de Música de Sintra | Page 33

Acho que há apenas um equívoco - e não é só no ensino da música - de dissociar o lúdico da exigência . Como se para se ser exigente não se possa deixar o aluno divertir-se . Isto é um grande equívoco . (...) Temos que garantir que o aluno está a lidar com a dificuldade , mas que não é um sofrimento ”. à improvisação resultou de um convite do Conservatório Nacional durante o meu estágio . Já sabiam que estava a escrever a tese sobre esta matéria e a diretora Lilian Kopke chamou- -me para fazer esta oficina . A ideia era fazer uma oficina de introdução à improvisação jazz e música moderna . Entretanto a oficina já se repetiu algumas vezes e está a decorrer outra agora ( esta entrevista decorreu em maio ), com outros alunos . Na minha abordagem não estou a contar que aqueles alunos vão seguir jazz . Estou a usar jazz , estou a ensinar-lhes como é a abordagem jazz , como funciona aquele pensamento , mas tento sempre mostrar-lhes para que é que lhes pode servir . Tenho sentido que as oficinas são bastante úteis . É uma disciplina de grupo e , não só o jazz e a música moderna são mais próximos da linguagem que os alunos conhecem do que a música contemporânea , como eles estão lá por escolha , enquanto que a outra disciplina fazia parte do currículo . É um facto que não apanho alunos desmotivados , e sim alunos que estão a contactar com uma música que lhes é mais próxima , e escolheram estar ali , e claro que isso altera logo a predisposição e o sucesso . É verdade que sinto que tem ajudado , que tem sido benéfico , mas precisava de fazer esta ressalva porque dizer simplesmente que o problema estava na abordagem seria muito injusto .

AA : O perfecionismo necessário para a execução de obras clássicas pode criar nos alunos muita resistência em relação ao erro e bloqueá-los criando experiências musicais traumáticas . Consideras que o uso da improvisação pode ser benéfico para contrariar estes bloqueios ? IL : Sim , absolutamente . Para mim foi muito importante e isso é uma das coisas que estou a trabalhar na oficina . Uso a improvisação e o exercício para chegar aí . Não é óbvio que seja a improvisação o ponto , acho é que o pensamento que nos leva à improvisação liberta-nos logo um pouco . De uma forma mais específica , numa fase em que ainda tinha imensos bloqueios , lembro-me que o meu professor de clássico , o João Vasco , que me dava aulas enquanto eu estava a estudar jazz no Hot Club e prestes a fazer provas para a licenciatura em piano jazz na Escola Superior de Música de Lisboa , dizer-me na ocasião de uma audição que podia tocar a sonata de Mozart que estava a trabalhar e um dos temas de jazz que ia levar para as provas da Superior . Fiz a audição , e ele disse-me que a minha postura corporal mudou drasticamente quando parei de tocar a sonata de Mozart e comecei a tocar o Granada , do Chris Cheek . Na altura ficámos os dois a pensar no porquê dessa mudança e lembro-me de lhe dizer que achava que era porque no clássico as notas já estão decididas previamente , e estou o tempo todo em pânico para tocar aquela nota no momento e no sítio certo e foi essa exigência
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