Andamento #1 Conservatório de Música de Sintra | Page 32

dificuldade é que é divertido é muitas vezes incutida pelo professor e depois ficamos muito surpreendidos quando os alunos com dificuldades desistem . Nós é que de certa maneira os viciámos a associar isso assim : não pode ser sempre divertido , hoje tem que ser mais difícil . Mas porque é que não pode ser difícil e divertido ? Não percebo , mas percebo . 99 % dos professores que tive pensavam assim , em qualquer área . A verdade é que se nós pensarmos nos nossos professores favoritos , nunca são os professores moles , mas também não são os professores super duros e maus . Eu já tive mais do que um aluno a dizer-me que acha que eu não sou exigente porque sou porreira , ou seja aquilo que lhe foi dito é que quando é exigente não é divertido . E eu pergunto-lhe : “ Não achas que eu puxo por ti ? Achas que é fácil a aula ?” E ele : “ Não , nada !” E eu : “ Então está tudo bem .”.
AA : O aluno evolui quase sem querer porque é levado … IL : Eles notam . Pelo menos nas minhas aulas sentem as dificuldades e a aula não é sempre divertida . Lidar com a frustração é uma parte integrante destas aulas , seja qual for o estilo do exercício que estivermos a trabalhar , seja improvisação , seja uma peça clássica . É difícil lidarmos com os nossos falhanços e é difícil a superação , mas não tem de ser horrível , não tem que ser um sacrifício , temos que conseguir que os alunos lidem com isso com naturalidade .
AA : A propósito do teu mestrado , estiveste a assistir a aulas de improvisação no Conservatório Nacional que eram baseadas em música atonal e contemporânea . Depois criaste um seminário baseado em improvisação mais associada à música tonal e ao jazz . Que conclusões retiraste em relação às duas abordagens musicais a que assististe , que tipos de improvisação é que achaste que funcionaram melhor ? IL : É uma pergunta muito abrangente . Em relação às aulas a que assisti durante o meu estágio - dadas pelo professor ( Jorge ) Sá Machado , violoncelista que faz parte do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa já há muitos anos e que é um músico por quem tenho um enorme respeito - inicialmente não tinham um programa definido . Chegaram a ser seminários de jazz , a disciplina chamava-se Projetos Coletivos e Improvisação e tem mudado ao longo dos anos . Mais recentemente , desde que o professor Jorge pegou na disciplina , usa-a como uma aproximação à música contemporânea . Faz um pouco daquilo que eu estava a dizer no início sobre a improvisação , como uma aproximação a uma determinada linguagem . Ouve música com os alunos , uma interpretação da peça que vão tocar , faz uma análise formal das peças e depois tenta que eles improvisem , porque uma boa parte das peças contemporâneas escolhidas por ele tinham espaço para a improvisação . A dificuldade que senti que existia nas aulas do professor é que os alunos não tinham contacto com aquele tipo de música , com aquela linguagem , e isso notava-se na recetividade que tinham às propostas do professor e no sucesso das improvisações . Era tudo muito abstrato para eles . A música atonal não é a música que se ouve na rádio e as aulas eram muito curtas . Senti que a abordagem do professor era a correta , mas naquele curto espaço de tempo era muito difícil . Houve evolução ao longo do ano e os alunos foram-se soltando e acreditando , mas precisavam de mais contacto do que apenas aquele , para uma linguagem que é tão distante à deles . A minha oficina de introdução
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