Andamento #1 Conservatório de Música de Sintra | Page 31

ideia de que temos um programa definido . O programa tem de ser desafiante . Claro que dentro de todos os graus há um leque de peças que podemos escolher , mas é muito importante percebermos o aluno que temos à frente ; se ele tiver muita dificuldade não podemos fazer com o ele o que fazemos com o aluno que não tem dificuldades . Temos mesmo que garantir que adaptamos o programa e que adaptamos a abordagem para que seja igualmente desafiante para o aluno com maior facilidade e para o aluno com menor facilidade . Se for tudo demasiado fácil para o aluno , o erro é do professor pois não está a desafiá-lo o suficiente ; por outro lado , se o aluno nunca conseguir fazer nada , o erro também é do professor por estar a dar desafios que não são alcançáveis para ele naquele momento . Temos que conseguir encontrar esse ponto , eu sei que há uma estrutura e percebo a sua necessidade , mas acho que temos que saber estar atentos e adaptarmo-nos aos alunos que temos à frente .
AA : Até porque há uma série de atividades musicais que são importantíssimas , coisas extra repertório , escalas ou arpejos , atividades que são mesmo importantes para a formação do aluno como músico e não como máquina de preparação de repertório . Acho que é um problema o facto do ensino ter que ser rápido , o aluno tem que ser rápido a aprender as peças , há uma espécie de pressa para transformar o aluno em músico . IL : A questão é que não dá para pensar nos objetivos se não pensarmos corretamente no percurso . O que acho que deve ser o nosso maior objetivo enquanto professores é cumprir o potencial que aquele aluno tenha , fazer aquele aluno brilhar o mais possível , chegar o mais longe possível , mas isso implica pegar nele e não numa ideia pré-concebida . Mesmo que tenhamos que cumprir uma determinada estrutura , há bastante flexibilidade para conseguirmos garantir que aquele aluno , - seja inseguro , tenha tido menos contacto , o que quer que seja - após a escolha das peças adequadas , possa retirar o máximo possível das aulas que está a ter de música . Isto depois terá um paralelo para o resto da vida . Se fizermos bem o nosso trabalho eles serão crianças , adolescentes e adultos um bocadinho mais felizes e um bocadinho mais capazes em tudo o resto . Por isso mesmo é uma responsabilidade tremenda , mas que vale imenso a pena , apesar de gastarmos um pouco mais de energia com as aulas .
AA : Sem dúvida . Tenho o caso de vários pais de alunos que me disseram que tiveram a oportunidade de estudar música em conservatório , mas que se desmotivaram devido à rigidez das aulas . As aulas eram tão exigentes e tão focadas na parte técnica que aquela parte lúdica associada ao ato de fazer música era completamente colocada de parte . Estes pais acabaram por dar uma segunda hipótese ao ensino musical e inscrever os filhos , porque perceberam que a situação já não era a mesma que eles viveram . IL : Acho que há apenas um equívoco - e não é só no ensino da música - de dissociar o lúdico da exigência . Como se para se ser exigente não se possa deixar o aluno divertir-se , e a mesma coisa ao contrário , se o professor quer que o aluno se divirta não pode ser exigente . Isto é um grande equívoco , não devem na minha opinião estar dissociados . Posso ser muito exigente e divertida com os meus alunos . Eu quero que o aluno se divirta , mas não quero que relaxe , que fique mole , que não seja exigente consigo próprio , que não tenha capacidade de superar dificuldades . Temos que garantir que o aluno está a lidar com a dificuldade , mas que não é um sofrimento . Aliás , a ideia de que só se não tiver
conservatório de música de sintra
31