Andamento #1 Conservatório de Música de Sintra | Page 28

de , numa versão muito simplista , ter uma professora quando ia à aula e chegar a casa e ter sempre professores . A minha mãe e o meu pai estavam sempre em cima , viam-me a tocar e , com as ganas de quererem ajudar , com as correções que me faziam , tive um bloqueio enorme , com o qual ainda batalho um bocadinho . Isto levou- -me a pensar que não queria estudar mais música , e como era muito confiante em tudo o resto , comecei a tornar-me progressivamente menos confiante no piano e a não me identificar com a situação . No fundo , o piano , que era uma atividade de que eu devia gostar , deixava-me desconfortável porque me sentia muito mais criticada do que nas outras coisas . E , por isso , cortei com as aulas de piano , mas fiquei com imensas saudades de ter aulas porque adorava música …
AA : Essa pausa foi de quanto tempo ? IL : Ao fim de relativamente pouco tempo pensei que não queria deixar de estudar música e por isso escolhi um instrumento que os meus pais não soubessem tocar , o violino . Não resolveu o problema , pois os meus pais continuavam a ter opiniões acerca do que eu tocava , mas foi parte do meu regresso . O percurso foi irregular , afastei-me , voltei para o violino , tive aulas privadas com o Alexander Stewart , que toca na Orquestra Sinfónica do São Carlos , e adorei as aulas com ele . Depois cheguei a um ponto em que me disse que precisava de ir para o conservatório para ter formação musical , história e as outras disciplinas . Fui para o conservatório mas , infelizmente , dei-me muito mal com o meu professor de violino , não falávamos a mesma língua , ele lidava comigo de uma maneira que me fazia estudar ainda menos , portanto , apesar de ter tido um professor de formação musical absolutamente espetacular - o professor Francisco Cardoso - voltei a afastar-me e a não querer nada com a música . Aí estava no 8 º, 9 º ano e foi a única fase da minha vida em que pensei que não queria música . Numa ocasião em que o meu pai foi dar uma masterclass no conservatório , o professor de formação musical foi ter com ele , apresentou-se , e disse que achava que eu tinha um grande potencial e um gosto enorme pela música , que sabia que tinha desistido por não me dar bem com o meu professor de violino , e que gostava de falar comigo para que eu fosse às suas aulas sem compromisso . Vou-lhe estar sempre grata , porque agora toda a minha vida está ligada à música , e esse regresso só aconteceu devido àquele pequeno grande gesto do Francisco , que me acompanhou durante o resto do ano letivo , trabalhando um lado psico-pedagógico , que me fez “ re-apaixonar ” pela música , ajudou-me a descobrir o meu lugar . Ele é que me fez ver que estava no violino só para fugir aos meus pais e que tinha que resolver o problema com os meus pais e não com o violino . Ele percebeu que eu estava muito mais à vontade ao piano , via-me muitas vezes a ir tocar piano por iniciativa própria , e achava que esse é que era o meu instrumento , e tinha toda a razão . Depois afastou-se , não participou ativamente no meu percurso , mas naquele ponto de viragem fez toda a diferença .
AA : Portanto entra aí a dimensão pessoal e a inteligência emocional … IL : Completamente , e é muito engraçado porque reencontrei- -o mais tarde como professor de psico-pedagogia na licenciatura em ensino e foi como um regresso às origens . De repente , tudo fez sentido , pude ver
28 andamento | verão 2021