AboutUS By Hotspotorlando #31 | Page 20

Elegia a uma pequena borboleta Cecília Meireles Como chegavas do casulo, — inacabada seda viva — tuas antenas — fios soltos da trama de que eras tecida, e teus olhos, dois grãos da noite de onde o teu mistério surgia, como caíste sobre o mundo inábil, na manhã tão clara, sem mãe, sem guia, sem conselho, e rolavas por uma escada como papel, penugem, poeira, com mais sonho e silêncio que asas, minha mão tosca te agarrou com uma dura, inocente culpa, e é cinza de lua teu corpo, meus dedos, sua sepultura. Já desfeita e ainda palpitante, expiras sem noção nenhuma. Ó bordado do véu do dia, transparente anêmona aérea! não leves meu rosto contigo: leva o pranto que te celebra, no olho precário em que te acabas,meu remorso ajoelhado leva! — o selvagem peso do gesto, — cegueira — ignorância — remotos instintos súbitos — violências que o sonho e a graça prostram mortos Pudesse a etéreos paraísos ascender teu leve fantasma, e meu coração penitente ser a rosa desabrochada para servir-te mel e aroma, Choro a tua forma violada, por toda a eternidade escrava! miraculosa, alva, divina, criatura de pólen, de aragem, E as lágrimas que por ti choro diáfana pétala da vida! fossem o orvalho desses campos, Choro ter pesado em — os espelhos que refletissem teu corpo — vôo e silêncio — os teus enque no estame não pesaria. cantos, com a ternura humilde Choro esta humana e o remorso dos meus desacerinsuficiência: tos humanos! — a confusão dos nossos olhos