O Rio de Janeiro, capital da República e um importante pólo industrial, transformou-se na “Cidade
Maravilhosa” nos anos 50, sendo tema das principais revistas semanais da época, como Manchete e
Cruzeiro, que destacavam a beleza da paisagem e o
traçado urbano. O objetivo era publicizar o progresso, associado ao avanço do capitalismo e de ideais
burgueses, uma vez que as alterações do espaço urbano foram publicizadas como necessárias e benéficas para transformar a cidade em uma metrópole.
Não obstante, nem só de decisões políticas e
econômicas vivia a cidade, pois ela se constituíra
também como centro da cultura e do lazer refinado,
onde se juntavam os moradores da Zona Sul. Enquanto isso, na Zona Norte e nos subúrbios – o outro lado da cidade, onde se multiplicavam os bairros
operários e de gente humilde –, as condições eram
bem diversas: o cenário de abandono, a precariedade dos serviços de água, luz e esgoto e sem nenhuma beleza denotavam o desprezo das autoridades.
Era a cidade murada dentro da “Cidade Maravilhosa”, a quem a prefeitura carioca sempre dava às costas. Os problemas urbanos e sociais se avolumaram
cada vez mais, destacando-se, por exemplo, a crise
de abastecimento dos serviços urbanos entre 1950
e 1954.
No início dos anos 1960, quando o político Carlos
Lacerda era governador da Guanabara, a cidade foi
alvo de reformas, tendo em vista adequá-la às demandas do desenvolvimento urbano com o aperfeiçoamento da rede viária e da infraestrutura, e a
retirada de favelas da Zona Sul e do Maracanã, que
empurrou os trabalhadores pobres e suas famílias
para a periferia supondo uma “recuperação social”.
A urbe ampliava os seus contrários frente ao avanço
do capitalismo e do conformismo burguês, enquanto o poder público impunha a segregação sócio espacial. As comunidades pobres eram um “incômodo social” e encaradas como uma “anomalia” da
urbanidade, por isso as constantes remoções por
meio do uso da força eram vistas como “legítimas”.
Na vigência do Estado autoritário , que tinha um
plano de “desfavelização” da Zona Sul carioca, ocorreram, por exemplo, as remoções do Pasmado (Copacabana) e Macedo Sobrinho (Humaitá); assim
como o incêndio da Favela da Praia do Pinto, em
1968, permitindo que essa área localizada no Leblon fosse aproveitada para a construção de prédios
modernos e arborizados que acabaram por beneficiar a classe média. O conjunto residencial conhecido como “Selva de Pedra” pressupunha, em um outro tempo, defender a abundância contra a escassez,
as virtudes contra os vícios, a casa contra a rua.
Ainda durante a ditadura militar, o Rio de Janeiro
foi cenário de muitas manifestações em oposição ao
autoritarismo vigente, a exemplo de ações da luta
armada encabeçada por organizações de esquerda
e da “Passeata dos Cem Mil” por ocasião do assassinato do estudante Edson Luís no R \