Os benefícios da civilização, associados ao gradativo aburguesamento do espaço urbano, apresentavam uma outra face: a exclusão dos pobres do centro da cidade, sob a alegação de que eram culpados
pelas doenças, atraso e mau cheiro. A presença da
turba, que lutava contra a fome e as enfermidades e
habitava os cortiços, sótãos e casas baratas do centro, encarados como focos de marginalidade, contrastava com a imponência das mansões e as casas
de negócios. Isso, sem dúvida, ameaçava a ordem
que a elite política republicana pretendia instaurar. Por isso, sanear e embelezar significava antes de
mais nada expulsar as famílias carentes, sujeitas à
exploração do trabalho, a fim de demarcar fronteiras contra os perigos que vinham da rua, advindo
daí o lema pejorativo “Bota Abaixo”.
Na década de 1920, ocorreu na cidade o primeiro
movimento armado urbano contra a República
dominada pelas oligarquias – o tenentismo. Movimento da jovem oficialidade que começou no Forte
de Copacabana e, diante do fogo cerrado, os revoltosos seguiram pela Avenida Atlântica em direção
às tropas legalistas, em uma atitude de claro enfrentamento ao poder. Esse episódio ficou conhecido como a Marcha dos Dezoito do Forte – uma
ação legendária marcada pela bravura de “heróis”
ancorada nas pedras da cidade! Dois sobreviventes,
Siqueira Campos e Eduardo Gomes, e os outros tombaram como “mártires”. Na verdade, esse levante foi
o centro de outros movimentos que aconteceram no
Distrito Federal, como o da Vila Militar e o da Escola Militar de Realengo, dentre outros, mas foram
eficaz e duramente reprimidos. Ameaças internas
à casa sempre existiram, tais como cisões políticas
que ameaçavam, ainda que conjunturalmente, a ordem e as instituições.
texto em que os “os ventos internacionais sopravam
a favor da democracia” diante da derrota do nazifascismo na Europa. O Atentado da Rua Tonelero, que
resultou no falecimento do Major Rubens Vaz e na
formação do Inquérito Policial Militar (IPM) pela
Aeronáutica, em uma nítida usurpação dessa arma
da autoridade do Judiciário e, por isso, chamado
de “República do Galeão”. A comoção popular no
Palácio do Catete diante do suicídio do presidente
Getúlio Vargas, que marcou, simbolicamente, a orfandade política do país e mostrou a fragilidade das
instituições e as divisões da classe burguesa quanto aos rumos do desenvolvimento capitalista sob o
controle do Estado. O movimento de 11 de novembro de 1955, conhecido como “golpe preventivo”
do General Henrique Teixeira Lott, aconteceu para
defender a legalidade e garantir a posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart respectivamente à
presidência e vice-presidência da República, levando em conta a visão forjada pelas elites civis e militares em relação a Goulart por conta de suas fortes
ligações com o trabalhismo.
As manifestações da União Nacional dos Estudantes
(UNE) e sindicatos coligados ao PCB e PTB, articuladas à Cadeia da Legalidade liderada por Leonel
Brizola, que tinha como objetivo assegurar a posse constitucional do vice-presidente João Goulart à
presidência da República por ocasião da renúncia do
presidente Jânio Quadros (1961) e do veto de civis
e militares de alta patente. A radicalização política durante os conturbados anos do Governo João
Goulart, com greves, passeatas e comícios, destacando-se o importante Comício da Central do Brasil em 13 de março de 1964, que desvelou as sérias
cisões da sociedade brasileira e a polarização dos
debates públicos de como viabilizar a autonomia
do país, agravadas pelos condicionantes históricos
Durante os anos 1940, 1950 e 1960, a cidade do Rio mundiais impostos pela bipolaridade Leste versus
de Janeiro foi palco de importantes mobilizações Oeste.
políticas e sociais. As manifestações pelo fim do EsContinue
tado Novo e pela redemocratização do Brasil associada ao retorno do Estado de Direito em um con-