Para a maioria da população urbana e do “sertão”
– este outro lugar tão distante! –, as novidades do
tempo pouco ou nada significaram: a República não
trouxe benefícios para suas vidas, assim como não
ouviram falar em cinematógrafo, luz elétrica e automóvel.
restauradores da monarquia ainda se articulavam.
O Rio de Janeiro era, portanto, um foco permanente de agitação social e daí a repressão sistemática em
termos de Polícia Civil e Exército. Era preciso conter a cidade do Rio de Janeiro em tudo que pudesse
ameaçar a ordem da República Oligárquica.
Com a fundação da República, a cidade do Rio de
Janeiro, elevada à categoria de Distrito Federal, deveria continuar ocupando o seu lugar na história,
tornando-se, simbólica e ideologicamente, o “cartão
postal” do país e a vitrine da “ordem e progresso”
– a divisa positivista da bandeira nacional. A cidade ocupou a posição de capital federal até o ano
de 1960, quando o presidente Juscelino Kubitschek
transferiu para Brasília, no planalto central, retirando o poder da beira da rua e reafirmando, em
uma hábil reconstrução de territorialidade política,
a distância governo e povo tão fulcrais ao domínio.
Com a transferência da capital da República, a cidade do Rio de Janeiro foi transformada em Estado
da Guanabara.
No governo Rodrigues Alves, o projeto de urbanização carioca, expresso no embelezamento e saneamento da área central, foi realizado na Prefeitura
Pereira Passos e baseado na remodelação de Paris à
época de Napoleão III, com o prefeito Haussmann.
A cidade foi transformada em canteiro de obras,
seguindo o plano da reforma, inspirado no modelo francês, que teve a participação do engenheiro
Paulo de Frontin, e, no ano de 1905 aconteceu a inauguração da Avenida Central (hoje Avenida Rio
Branco). A obra de saneamento ficara por conta
do médico Oswaldo Cruz, cujo objetivo era acabar
com as “pestes” e higienizar a cidade. Embelezar e
sanear o espaço urbano carioca significava o quê?
As vacinas eram encaradas como a solução para a
erradicação de doenças, como a febre amarela, a
peste bubônica e a varíola. À aprovação do decreto
da vacina obrigatória em 1904 e à ausência de esclarecimento à opinião pública, especialmente aos
humildes e analfabetos, seguiu-se um levante popular, com paus e pedras nas ruas, transformando a
cidade em um campo de batalha. Tal acontecimento
resultou em forte intervenção da polícia, saldo de
inúmeros mortos e muitas prisões na Casa de Detenção. A Revolta da Vacina expressava a resistência do povo que nenhum benefício recebeu com as
obras da prefeitura, mostrando que o progresso não
era para todos.
A cidade do Rio de Janeiro foi um importante centro
financeiro da Primeira República, o primeiro porto de importação e o segundo porto de exportação
do país; o local onde o assalariamento era mais difundido e concentrado e a consciência política dos
trabalhadores urbanos era mais afirmativa, juntamente com São Paulo e Santos. Isto explicou-se pela
presença intensa de anarquistas e anarcossindicalistas, marcados pela imigração, pelo avanço do setor
urbano-industrial e pela existência de funcionários públicos, inclusive portuários e ferroviários. O
Centro Industrial do Brasil tinha aqui a sua sede, o
que significa dizer que os maiores industriais brasileiros tinham como centro a urbes carioca. Era
também o lugar onde havia um maior número de
lumpemproletariado, ou seja, um exército industrial de reserva de vadios, desempregados, mendigos,
subempregados que habitavam cortiços. E ainda o
fato que a capital federal, juntamente com outras
cidades do interior fluminense, era o lugar onde os
Muito do traçado colonial da cidade desapareceu
com a reforma urbanística dos anos 1902 a 1906,
que derrubou e desapropriou construções coloniais, como por exemplo o Morro do Castelo, para dar
lugar à “civilização” e proteger contra a “barbárie”,
resguardar a “boa sociedade” contra os “estranhos”.