AboutUS By Hotspotorlando #30 | Page 12

Para a maioria da população urbana e do “sertão” – este outro lugar tão distante! –, as novidades do tempo pouco ou nada significaram: a República não trouxe benefícios para suas vidas, assim como não ouviram falar em cinematógrafo, luz elétrica e automóvel. restauradores da monarquia ainda se articulavam. O Rio de Janeiro era, portanto, um foco permanente de agitação social e daí a repressão sistemática em termos de Polícia Civil e Exército. Era preciso conter a cidade do Rio de Janeiro em tudo que pudesse ameaçar a ordem da República Oligárquica. Com a fundação da República, a cidade do Rio de Janeiro, elevada à categoria de Distrito Federal, deveria continuar ocupando o seu lugar na história, tornando-se, simbólica e ideologicamente, o “cartão postal” do país e a vitrine da “ordem e progresso” – a divisa positivista da bandeira nacional. A cidade ocupou a posição de capital federal até o ano de 1960, quando o presidente Juscelino Kubitschek transferiu para Brasília, no planalto central, retirando o poder da beira da rua e reafirmando, em uma hábil reconstrução de territorialidade política, a distância governo e povo tão fulcrais ao domínio. Com a transferência da capital da República, a cidade do Rio de Janeiro foi transformada em Estado da Guanabara. No governo Rodrigues Alves, o projeto de urbanização carioca, expresso no embelezamento e saneamento da área central, foi realizado na Prefeitura Pereira Passos e baseado na remodelação de Paris à época de Napoleão III, com o prefeito Haussmann. A cidade foi transformada em canteiro de obras, seguindo o plano da reforma, inspirado no modelo francês, que teve a participação do engenheiro Paulo de Frontin, e, no ano de 1905 aconteceu a inauguração da Avenida Central (hoje Avenida Rio Branco). A obra de saneamento ficara por conta do médico Oswaldo Cruz, cujo objetivo era acabar com as “pestes” e higienizar a cidade. Embelezar e sanear o espaço urbano carioca significava o quê? As vacinas eram encaradas como a solução para a erradicação de doenças, como a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. À aprovação do decreto da vacina obrigatória em 1904 e à ausência de esclarecimento à opinião pública, especialmente aos humildes e analfabetos, seguiu-se um levante popular, com paus e pedras nas ruas, transformando a cidade em um campo de batalha. Tal acontecimento resultou em forte intervenção da polícia, saldo de inúmeros mortos e muitas prisões na Casa de Detenção. A Revolta da Vacina expressava a resistência do povo que nenhum benefício recebeu com as obras da prefeitura, mostrando que o progresso não era para todos. A cidade do Rio de Janeiro foi um importante centro financeiro da Primeira República, o primeiro porto de importação e o segundo porto de exportação do país; o local onde o assalariamento era mais difundido e concentrado e a consciência política dos trabalhadores urbanos era mais afirmativa, juntamente com São Paulo e Santos. Isto explicou-se pela presença intensa de anarquistas e anarcossindicalistas, marcados pela imigração, pelo avanço do setor urbano-industrial e pela existência de funcionários públicos, inclusive portuários e ferroviários. O Centro Industrial do Brasil tinha aqui a sua sede, o que significa dizer que os maiores industriais brasileiros tinham como centro a urbes carioca. Era também o lugar onde havia um maior número de lumpemproletariado, ou seja, um exército industrial de reserva de vadios, desempregados, mendigos, subempregados que habitavam cortiços. E ainda o fato que a capital federal, juntamente com outras cidades do interior fluminense, era o lugar onde os Muito do traçado colonial da cidade desapareceu com a reforma urbanística dos anos 1902 a 1906, que derrubou e desapropriou construções coloniais, como por exemplo o Morro do Castelo, para dar lugar à “civilização” e proteger contra a “barbárie”, resguardar a “boa sociedade” contra os “estranhos”.