Para além das questões econômicas, um projeto
político delineou-se na época do reformismo ilustrado pombalino e concretizou-se com a vinda de D.
João VI no ano de 1808, qual seja: transferir o Império
Português para os trópicos, longe das inquietações e
temores que estavam atingindo a Europa desde a segunda metade do século XVIII. E, assim sendo, transformar a cidade do Rio de Janeiro na “Nova Lisboa”.
Ministros e conselheiros, influenciados pelas Luzes,
planejavam fundar um novo Império que exibisse
prestígio monárquico e garantisse segurança aos
súditos, atributos que há muito não existiam mais no
Velho Reino.
Esse projeto político tornou-se realidade, sob os auspícios da Inglaterra que, nesse período, era a “rainha
dos mares” e a oficina industrial do mundo. A nobreza lusitana chegou na colônia e a cidade do Rio
de Janeiro – a nova sede do Império Português – exibia, aos olhos da elite, o prestígio e a importância
de uma capital europeia. Sem dúvida, a instalação da
Corte joanina transformou a cidade em um importante centro político, econômico, social e cultural,
dentro do qual a maior parte da população, aqueles
excluídos do acesso à propriedade ou escravizados,
não participou.
Conquistada a autonomia política, a elite senhorial
pretendeu organizar o Estado Nacional com o objetivo de transformar a Monarquia, a única na América
do Sul, em um modelo político equiparável às formas
de governo das nações modernas e civilizadas da Europa. E ainda – caberia a essa elite a difícil obra de
construir uma Nação definida pelo “corpo branco”, a
fim de legitimar a “boa sociedade” demarcada pela e
na escravidão através de um acordo entre senhores.
O objetivo era resguardar a propriedade associada à
defesa da unidade político territorial do Brasil e driblar a insegurança representada pelo medo de que a
sublevação escrava no Haiti – símbolo do mal – aqui
se repetisse, transformando a luta pela independência em um confronto etnicorracial.
Na segunda metade do Oitocentos, assistiu-se a uma
maior urbanização do Rio de Janeiro graças à sua
posição político administrativa e ao apogeu do café.
A cidade, sede do poder central, transformou-se também em centro econômico, sob o controle dos “barões
de café” – a aristocracia fluminense encastelada no
Conselho de Estado. A casa associada à liberdade estava protegida sob o manto da autoridade imperial
contra a rua identificada à desordem. A posição da
urbes como espaço de dominação da Corte Bragantina e pólo da economia cafeeira, além da sua condição
de maior porto exportador e importador, explica a
sua proeminência no Império do Brasil.
A partir da crise da Monarquia, a cidade conheceu
um período de instabilidade, destacando-se as campanhas abolicionistas com a forte mobilização de
setores médios urbanos em ascensão, a Revolta do
Vintém de 1880, a luta do povo contra o aumento
das passagens do bonde, e as constantes fugas dos
afrodescendentes enquanto instrumento de resistência à escravidão. A Guerra do Paraguai, apesar da
vitória e da imposição dos interesses brasileiros na
região platina, afirmou a importância da “espada” na
conformação do poder, estampou as contradições da
boa sociedade e ajudou a ruir a casa. Isso levou civis
e milit