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4 A Voz dos Reformados | Julho / Agosto 2022
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Entrevista a Isabel Gomes, presidente da Confederação Nacional de R
Dar resposta ao aumento do custo de vi
« O movimento associativo está vivo e com uma intervenção própria e dinâmica », assegurou à « Voz dos Reformados », Isabel Gomes, a nova presidente do MURPI. Como reivindicações principais da Confederação, avançou com o direito de envelhecer com dignidade, agir por soluções políticas que assegurem este envelhecimento com dignidade e consolidar o movimento associativo. No imediato, o MURPI exige o aumento de, pelo menos, 20 euros em todas as pensões.
Fala-nos um pouco de ti. Quem é Isabel Gomes? Tenho 70 anos e venho de uma família pobre, que viveu o tempo do fascismo com muitas dificuldades. A minha mãe era operária têxtil e o meu pai empregado de escritório. Estudei até ao 12.º ano e, depois, comecei a procurar emprego, o que não foi fácil. Comecei a trabalhar no Instituto de Soldadura e Qualidade, onde permaneci durante 43 anos. Ali fui caixa, tesoureira e, mais tarde, secretária, tendo dirigido 12 técnicos na área da inspeção aos elevadores. Ingressei no Sindicato dos Metalúrgicos e, em seguida, no Sindicato das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente, onde fui, primeiro, delegada sindical e, mais tarde, dirigente. Foi, de fato, viver num mundo de homens, com todas as dificuldades de ser mulher.
Que obstáculos encontraste nesse percurso? Fui obrigada a deixar o cargo de tesoureira após terem-me instaurado quatro processos disciplinares, por não assinar documentos que entendia ser da responsabilidade da entidade patronal, que eram falsos. O sindicato defendeu-me e foram obrigados a reintegrar-me. Colocaram-me num corredor sem qualquer tipo de tarefas, sentada numa secretária. Também aqui venci a batalha. Ao fim de dois anos perceberam que não ia ceder e deram-me trabalho na secção de elevadores, partindo do princípio que não seria capaz e que acabaria por desistir. Enganaram-se. De elevadores não sabia nada, mas aprendi mais depressa do que pensavam ser possível. Dirigir aqueles homens não foi difícil e aprendi muito com eles.
No atual contexto, que importância e significado teve o reforço da participação de mulheres nos órgãos sociais do MURPI, eleitos no 10.º Congresso? A participação de mais mulheres nos nossos órgãos sociais traz a certeza de que o MURPI é capaz de levar à prática as decisões tomadas em Congresso. São elas que mais sentem o aumento do custo de vida e, muitas vezes, gerem o escasso dinheiro das reformas. Estas dirigentes vão trazer toda a sua experiência para desenvolver o trabalho de Direcção da nossa Confederação.
Que resposta deu este Congresso àqueles que pretendem secundarizar o papel do movimento associativo e a sua intervenção? Apesar da política do medo instaurada, neste 10.º Congresso as associações – saídas há muito pouco tempo do isolamento, de portas fechadas e com graves problemas de direção, já que alguns dirigentes pereceram devido à pandemia – compareceram ativas, com propostas concretas, desejando que as dinâmicas voltem ao normal. Verificamos que as assembleias gerais estavam a realizar-se ou a serem programadas para breve. A perspectiva de trabalho existia e a eleição de novos corpos sociais era uma realidade. Cinco dias depois do Congresso, teve lugar o 25.º Piquenicão do MURPI, com 40 grupos de cantares e a participação de mais de duas mil pessoas. É a constatação que o movimento associativo está vivo e com uma intervenção própria e dinâmica.
Entretanto, a Direção Nacional da Confederação avançou com a necessidade de divulgação do Programa de Ação aprovado na reunião magna do MURPI. Quais as principais reivindicações? Direito a envelhecer com dignidade, agir por soluções políticas que assegurem este envelhecimento com dignidade e consolidar o movimento associativo. Estes são os três pontos fundamentais. Para os levar à prática temos que ter um MURPI mais forte, com federações distritais organizadas, associações a funcionar em pleno, levando os seus associados a luta organizada por uma vida melhor, que passa também por aumentos justos das pensões e para todos, inclusive para aqueles que têm reformas com valores um pouco superiores à média, porque também descontaram mais.
Outra das frentes de luta passa por denunciar o aumento do custo de vida, através da campanha « O custo de vida continua a aumentar e as pensões a minguar », do MURPI, e da dinamização da petição « Repor o poder de compra das pensões ». Que consequências está a ter esta situação na vida dos reformados, pensionistas e idosos? Está a ser desastrosa. Todos os dias sobem os preços dos bens essenciais, o que leva ao agravamento da vida dos reformados e ao acentuar das desigualdades sociais, tornando mais difícil o acesso à saúde e ao bem-estar dos reformados, pensionistas e idosos. Ouvimos todos os dias dizer que não sabem se devem comprar os medicamentos ou pagar a eletricidade que está em atraso, ou qualquer conta que as magras pensões não cobrem. Esta situação levou-nos a emitir dois comunicados e a apoiar a petição existente na plataforma da Assembleia da República, subscrita por 35 peticionários. Apoiamos este abaixo-assinado, em conjunto com outras organizações, que, como nós, entendem que os preços continuam a aumentar e as pensões a minguar. No próximo mês estaremos na rua com a petição em papel para obtermos as 7500 assinaturas que proporcionarão a ida deste tema a discussão no Parlamento.
O aumento extraordinário de 10 euros nas pensões é suficiente para repor o poder de compra? Nem todas as reformas sofreram o aumento extraordinário de 10 euros. Só as pensões até ao valor de 1108 euros. E os outros? Descontaram para que agora tenham direito a ver o seu poder de compra ser reposto na mesma proporção.