A Voz dos Reformados - Edição n.º 173 Setembro/Outubro 2021 | Page 6

Saúde
6 A Voz dos Reformados | Setembro / Outubro 2021

Saúde

Avós e netos

Margarida Lage
Médica
Para o saudável desenvolvimento das crianças e dos adolescentes será benéfico ou não a proximidade , companhia frequente , entre avós e netos ? Muitas publicações de psicólogos , psiquiatras , terapeutas familiares , médicos de família apontam como benéfico para ambas as partes que os avós convivam com os netos desde a primeira infância , para a adolescência e até à idade adulta , se tiverem essa sorte . Também os geriatras , de uma forma geral , reconhecem o benefício para o idoso de ter o envelhecimento acompanhando os netos , colaborando na sua educação , transmitindo os valores familiares , contando as histórias que ilustram a vida dos seus pais e avós , quando as famílias eram mais alargadas e a vida em Portugal era eminentemente rural . Nas aldeias , em geral , viviam na mesma casa três gerações . Isso , sendo sinal de dificuldades económicas e sociais era , por outro lado , um bom aproveitamento de recursos . Enquanto os pais trabalhavam no campo as crianças pequenas eram cuidadas em casa pelos avós , principalmente as avós . No princípio do século XX a esperança de vida era muito menor que agora . Por outro
FARPIBE / MURPI NO DISTRITO DE BEJA R : DOS AÇOUTADOS 18 • 7800-493 BEJA
FARPIE / MURPI NO DISTRITO DE ÉVORA R DE MACHEDE 53 • 7000-864 ÉVORA lado , era-se pai e mãe entre os vinte e os trinta anos , e os avós eram pessoas válidas , muitas vezes com quarenta a cinquenta anos , ainda com todas as suas capacidades físicas . Perfeitamente aptos a cuidar dos netos , alimentá-los , conversar com eles e educá-los . Provavelmente na memória dos que agora temos 70 anos permanecem as histórias de gerações passadas , lendas , mitos , crenças , « segredos familiares » que só as avós sabiam e contavam pacientemente aos netos . Depois começou a vida cada vez mais citadina . Os jovens casais emigraram para as cidades , tiveram filhos que já só viam os avós de visita ou nas desejadas e divertidas férias em que iam « à terra ». Essas férias , tão desejadas e compensadoras , permitiram à minha geração conhecer formas de vida diferentes , trabalhos agrícolas , primos que viviam materialmente pior que os citadinos mas que tinham vidas muito mais divertidas . Por vezes a avó passava uma temporada ( inverno ) em Lisboa , como a casa era pequena dormia no mesmo quarto dos netos e lá vinham as mesmas histórias que ouvíamos sem nos aborrecermos de serem sempre as mesmas … Quando os avós eram idosos não podiam ficar sós na aldeia e por vezes vinham para « Lisboa », mas
FARPIL / MURPI NO DIST . DE LISBOA R OVAR 548 1 C • 1950-214 LISBOA
FARPIS / MURPI NO DIST . DE SETÚBAL AV 25 DE ABRIL - EDF MONTE SIÃO TORRE DA MARINHA • 2840-443 SEIXAL as casas pequenas não comportavam o alargamento da família e era ( e ainda é ) em lares que passavam a residir . As visitas aos lares eram a « salvação » destas relações avós / netos . Com a pandemia tudo isto se agravou . Visitas através de um vidro de janela , comunicações por telefone e internet que muitas vezes o idoso não sabe manejar e tem que conversar com os entes queridos na presença de um funcionário do lar para manipular o aparelho , são enormes barreiras de comunicação . A COVID foi um grande passo atrás na convivência intergeracional . Esperemos que em breve esteja ultrapassada ! Os avós modernos e mais informados ultrapassaram melhor os confinamentos . Uma amiga cujos netos vivem em Londres diariamente fala com eles on-line , conta-lhes histórias , ajuda-os nos TPC , ouvem os seus desabafos e fazem uma vida quase normal . Está provado que há menos depressão em jovens e adultos que tiveram muita convivência com os avós , assim como está provado que nos idosos que acompanham os netos também existem menos depressões . Depois do « ninho-vazio » resultante da saída dos filhos adultos de casa e também devido à entrada na reforma , é frequente a pessoa idosa sentir-se desvalorizada . Os netos são uma excelente terapêutica para esta fase de desmotivação , por vezes tendendo para depressão . Como todos os medicamentos a dose deve ser adaptada . Nem demais nem de menos . Há avós que , entrados na reforma e cheios de planos para realizar o que não puderam durante a vida ativa , se veem , de repente , a trabalhar a tempo inteiro para os netos , não se permitindo pôr em prática os seus projetos . Como em tudo o bom senso deve imperar : conciliar os interesses e gostos de todos para evitar frustrações por defeito ou por excesso .
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Vivamos a vida sem medo

José Miguel Carvalho
Médico
Quase parece que gostamos de ouvir que somos os piores do mundo ( salvo no futebol ), mas , de fato , com mais de 80 por cento da população imunizada contra a COVID-19 , somos dos países com maior taxa de vacinação do planeta – 20 por cento acima da União Europeia , com que tanto nos comparamos . A experiência do Serviço Nacional de Saúde nas décadas mais recentes , levou , com certeza , os portugueses a aderir à proposta de vacinação . Uma campanha bem organizada completou o quadro . Com estes 80 por cento de vacinados , sabemos que estamos bastante protegidos para as formas mais graves da doença . Sabe-se que com esta , e com todas as vacinas , a proteção nunca é de 100 por cento , mas que melhora muito ( íssimo ) o panorama geral . Desvalorizemos os discursos e notícias alarmistas , que visam fomentar e manter o medo nas nossas cabeças . Continuará a haver casos de doença , e alguns fatais , infelizmente , mas a vida deve e tem que continuar . Como sempre , se nos sentirmos doentes , procuremos ajuda dos serviços de saúde : seja COVID ou outra das muitas doenças que existem , o diagnóstico e o tratamento precoce é a forma segura de ultrapassar essa provação . No dia a dia , a enorme maioria das pessoas não tem qualquer sintoma , nem está doente ! Vivamos a vida sem medo , com responsabilidade , sensatamente . Mantermo-nos ativos é a melhor maneira de resistir às doenças : manter ligação com os amigos e familiares , com as atividades culturais e desportivas da nossa zona de residência , fazer umas caminhadas regularmente ( maiores ou menores , segundo a capacidade de cada um ), ou praticar algum desporto que seja do nosso gosto ( se tal é possível ). Os cuidados individuais , sobretudo o lavar das mãos regularmente , e o uso da máscara nos ambientes fechados , devem continuar a estar presentes . Sair , andar ao ar livre , não só nos permite ter mais atividade física , como nos ajuda a melhorar a disposição de espírito e a combater os estados depressivos . E , ao ar livre , a diluição do ar , a sua renovação eficaz no exterior , são a melhor proteção coletiva . Terminando , relembramos que a vacina antigripal a partir de Outubro está aí para ser usada e continua a ser uma ajuda importante . Todos nós , com mais de 65 anos , apenas temos que nos dirigir ao nosso centro de saúde e seremos vacinados gratuitamente .