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2 A Voz dos Reformados | Julho/Agosto 2020
Em foco
Entrei no café
com um rio
na algibeira
Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...
A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.
Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.
E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
– onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.
José Gomes Ferreira
Continuar a intervir
em defesa dos Serviços Públicos
Na audição «Por uma Administração Pública ao serviço
do povo e do País», promovida pelo PCP no dia 10 de
Julho, Manuel Pinto André, da Direcção do MURPI,
destacou a «resposta» dada pelos Serviços Públicos
para conter a pandemia provocada pela COVID-19,
nomeadamente o Serviço Nacional de Saúde (SNS), a
Segurança Social e a Escola Pública, tendo defendido o
seu reforço, «de forma a colmatar as deficiências detectadas
não só no combate ao vírus, como em relação ao
acompanhamento e tratamento de outras patologias».
Simultaneamente, reclamam-se melhores condições
de habitação e mobilidade.
Centrando atenções na «necessidade de um maior
investimento no SNS, tanto em recursos financeiros,
como tecnológicos e humanos, que possa garantir a
universalidade de cuidados de saúde às populações»,
Manuel Pinto André não esqueceu a importância do
reforço da rede de Cuidados Primários de Saúde. «Torna-se
imperioso a prestação de cuidados de saúde de
proximidade e de qualidade, com resposta atempada
e articulada com outros níveis de cuidados de saúde:
hospitais, rede de cuidados continuados e paliativos»,
salientou, referindo que também os centros de saúde
devem «poder assegurar cuidados médicos e de enfermagem,
de vigilância e de tratamento às pessoas idosas
e dependentes a residirem em lares».
Outra das ideias trazidas por este professor aposentado
é que os lares da terceira idade ou Estruturas Residenciais
para Idosos constituem «uma componente
importante de protecção e de apoio às pessoas idosas».
No entanto, criticou, o Estado, através da política de
sucessivos governos, «tem-se desresponsabilizado da
criação de uma rede pública de equipamentos de apoio
social destinado às pessoas idosas», como o MURPI
tem vindo a defender.
Relativamente à atual situação vivida, Manuel Pinto
André considerou inaceitável que «os idosos sejam,
discriminados e vejam limitados os seus direitos, liberdade
e garantias» e «mantidos em isolamento social
por tempo indeterminado». Neste sentido, o MURPI
exige que «sejam estabelecidas normas sanitárias para
que o isolamento social dos idosos termine e possam
receber visitas e conviver em segurança», podendo
as associações de reformados, pensionistas e idosos
«retomar as suas actividades culturais, recreativas, de
lazer, desportivas, formativas e de convívio».
Lares para idosos são o calcanhar
de Aquiles na luta contra a pandemia
«As pessoas idosas, por pertencerem a um
grupo de risco de contágio pela infeção por
COVID-19, merecem uma atenção especial
das autoridades sanitárias», especialmente
as que se encontram internadas em lares
e outras estruturas residenciais, defende o
MURPI.
Tendo em conta que «nenhuma estrutura ou
organização tem capacidade de dar resposta
cabal a uma epidemia com estas características»,
a Confederação reivindica a definição
de um plano estratégico sanitário de defesa
das pessoas idosas residentes em lares,
envolvendo entidades da Saúde, da Proteção
Civil e da Segurança Social; a criação
de meios que combatam as consequências
psicológicas do isolamento social
resultante da proibição de visitas dos seus
familiares; proteção social, financeira e
psicológica dos trabalhadores dos lares.
CADERNO REIVINDICATIVO 2020
COMBATER O ISOLAMENTO E PROMOVER A MOBILIDADE
A área dos transportes não ficou de fora da política
desastrosa promovida pelos sucessivos governos,
assistindo-se ao encerramento da ferrovia, à privatização
da rede de transportes de âmbito regional
e nacional, à degradação do material circulante,
à distorção da oferta do horário dos transportes
coletivos e até à sua ausência, ao aumento dos
preços dos títulos de transportes, com os consequentes
prejuízos para os utentes em geral e para
os reformados e pensionistas em particular.
Esta situação agrava o isolamento e dificulta o
acesso das pessoas idosas aos serviços essenciais
no quotidiano. A par destas dificuldades somamse
outros constrangimentos: mau estado das vias
circulantes, barreiras arquitetónicas à mobilidade
e à acessibilidade aos meios de transporte.
O MURPI reivindica a garantia de uma rede de
transportes públicos em todas as localidades; desconto
de 50 por cento nos títulos de transporte em
todos os transportes públicos para os reformados
e pensionistas; criação de um bilhete intermodal
que facilite a utilização dos transportes públicos
nas áreas metropolitanas; combate e eliminação
das barreiras arquitetónicas e de acessibilidade.