A Voz dos Reformados - Edição n.º 165 Maio/Junho 2020 | Page 8

8 A Voz dos Reformados | Maio/Junho 2020 Última página Palavras de Paz Reforçar a solidariedade em tempo de pandemia A pandemia de COVID-19 e os seus impactos económicos e sociais exige, ou deveria exigir, a convergência de vontades e esforços ao nível internacional em defesa da saúde e dos direitos das populações. É, pois, significativo o importante exemplo de países, como a China, Cuba ou a Rússia, que escolheram, deste o primeiro momento, o caminho da solidariedade e da cooperação, enviando profissionais de saúde, equipamentos médicos e medicamentos para algumas das regiões mais afetadas pelo novo coronavírus. Se é verdade que o surto epidémico tem expressão na grande maioria dos estados do mundo, também é certo que nem todos têm as mesmas condições para o combater. Assim, a pandemia poderá ter consequências mais graves para os povos que estão confrontados com a guerra ou a ocupação (Afeganistão, Iémene, Iraque, Palestina, Sara Ocidental ou Síria) ou para os refugiados, incluindo os que permanecem em campos sem condições, incluindo em países da própria União Europeia (UE). Maior dificuldade enfrentam também os povos sujeitos a sanções e bloqueios económicos, comerciais e financeiros que os EUA ou a UE impõem a países que afirmam a sua soberania, como são os casos de Cuba, Irão, Síria, Venezuela e outros, igualmente membros das Nações Unidas. Ora, é precisamente em tempo de emergência sanitária mundial que os EUA e alguns outros países não só rejeitam as múltiplas iniciativas no sentido do levantamento das suas ilegais e desumanas sanções e bloqueios, que agridem os direitos e a soberania dos povos, como as incrementam contra alguns países. A isto acresce a tentativa falhada de agressão militar contra a Venezuela, perpetrada por mercenários a mando da administração norte-americana. Neste quadro, um conjunto de organizações nacionais, de que fazem parte o CPPC e o MURPI, dirigiu uma carta aberta ao Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, exigindo o «fim imediato da agressão e da ingerência contra outros países e os seus povos e da ameaça do uso da força das relações internacionais». Reclamando, ao mesmo tempo, o «fim imediato das sanções e bloqueios económicos, comerciais e financeiros impostos contra outros países e os seus povos». Estas reivindicações dão expressão a princípios inscritos na Constituição da República Portuguesa e na Carta das Nações Unidas, ganhando crescente oportunidade e flagrante urgência no momento particularmente complexo que a Humanidade enfrenta. Medidas da DGS sobre retoma de visita a lares são insuficientes e tardias A decisão da Direcção-Geral da Saúde (DGS) de permitir a visita aos residentes nos lares de terceira idade (Estruturas Residenciais para Idosos - ERI), que se encontravam privados de contato com os seus familiares desde o decreto do estado de emergência, embora importante, é «insuficiente» e «tardia», considera a Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos – MURPI. A «necessidade de proteção das pessoas idosas do contágio pelo novo corona vírus (COVID-19) causou, simultaneamente, situações de isolamento que condicionaram estados de angústia, ansiedade, solidão e depressão, e, em outras condições, agravamento de doenças mentais previamente existentes», facto que mereceu um «alerta» do MURPI, a 30 de Março, sugerindo às entidades competentes que atenuassem as condições de confinamento através de programas que valorizassem o entretenimento cultural. «As atuais normas dimanadas pela DGS, para além de tardias, pecam pela insuficiência, ao limitarem a uma visita semanal e a apenas um familiar por um período não superior a 90 minutos. É importante assegurar o respeito pelo direito de ser a pessoa idosa a manifestar a ou as pessoas com quem deseja partilhar o encontro, assim como assegurar o aumento da frequência para 2 ou 3 visitas semanais, nas condições estabelecidas pelas normas da DGS, por entendermos que a residência em lares deve constituir um prolongamento das condições familiares previamente existentes», afirma a Confederação, em nota divulgada no dia 12 de Maio. Nesta nota, o MURPI exige, também, a «humanização e o respeito pelas pessoas idosas residentes em lares» e apela à «introdução de alterações no regime das visitas dos familiares e amigos». Lares sobrelotados No debate «Rede de equipamentos e serviços de apoio social da infância à velhice. Situação e perspetivas», realizado por videoconferência no dia 21 de Maio, Casimiro Menezes, presidente do MURPI, deu conta que quase metade da letalidade verificada nos casos de COVID-19 atingiu pessoas idosas residentes em lares com elevada lotação de pessoas em estruturas arquitetonicamente desadequadas, com insuficientes condições de proteção e desprovidas de cuidadores formais em número, capaz de assegurarem a proteção e a vigilância das pessoas idosas. Em alternativa, Casimiro Menezes defendeu outras respostas sociais, como o Serviço de Apoio Domiciliário, que possibilita diversos tipos de respostas, da alimentação à higienização pessoal e domiciliária, passando pelo acompanhamento e a administração medicamentosa. Integrar as pessoas idosas Segundo dados recentes, um milhão de pessoas vivem (800 mil utentes) e laboram (200 mil trabalhadore) em lares, entidades maioritariamente geridas por instituições particulares de solidariedade social (IPSS) que não têm merecido o devido financiamento do Sucessivos governos abdicaram de criar uma Rede Pública de Equipamentos de apoio às pessoas idosas, optando pela sua privatização e transferindo a responsabilidade na construção e gestão dos equipamentos sociais para as IPSS, tendo por base o financiamento público; Estado. A este universo acrescem os lares do setor privado com fins lucrativos e os lares não legalizados. O MURPI concorda com a edificação de ERI (destinados à residência de utentes autónomos ou fisicamente dependentes), preferencialmente de média dimensão (25 utentes), devendo estes estar equipados de acordo com as exigências legais em vigor, com capacidade para desenvolver atividades nas áreas de estimulação cognitiva, da motricidade física, da cultura e outras. Devem ainda ser dotados de trabalhadores de apoio social, de técnicos do serviço social, da psicologia, da fisioterapia, de animadores culturais e outros. Necessariamente, estes equipamentos deverão ser acessíveis a todos que deles necessite. No seu Caderno Reivindicativo para 2020, o MURPI avança com uma rede pública de equipamentos sociais e de serviços de apoio humanizados que respeitem a integração das pessoas idosas. Propostas do MURPI «Como proteger os idosos residentes em lares e outras estruturas residentes destinadas às pessoas idosas?», interroga-se o MURPI, que está «consciente que nenhuma estrutura ou organização tem capacidade de dar resposta cabal a uma epidemia» como a COVID-19. No entanto, «é necessário mitigar as consequências que resultam das fragilidades existentes, centrando as medidas na proteção individual dos trabalhadores, admissão de mais trabalhadores para garantirem o funcionamento destas respostas sociais, realização de testes de diagnóstico, isolamento de doentes com CO- VID-19 e higienização das instalações», recomenda o MURPI, que, já em 30 de Março, reivindicou a definição de um plano estratégico sanitário de defesa das pessoas idosas residentes em lares, envolvendo entidades da Saúde, da Proteção Civil e da Segurança Social; criação de meios que combatam as consequências psicológicas do isolamento social resultante da proibição de visitas dos seus familiares; proteção social, financeira e psicológica dos trabalhadores dos lares.