A Voz dos Reformados - Edição n.º 165 Maio/Junho 2020 | Page 6
6 A Voz dos Reformados | Maio/Junho 2020
Saúde
COVID-19. E agora?
Margarida Lage
Médica
Todos temos acompanhado de alguma
forma a pandemia, pois todos
fomos e estamos a ser afetados por
ela. Esta pandemia, ocasionada pelo
SARS-CoV-2, alterou o nosso dia-adia.
O vírus é novo, diferente dos outros
coronavírus, por isso, cientistas,
médicos, políticos e população em
geral têm estado a aprender a lutar
com a nova doença.
De acordo com a evidência científica
disponível à data, ainda não é possível
confirmar se as pessoas infetadas
com SARS-CoV-2 desenvolvem imunidade
protetora. O organismo humano
pode ir ganhando anticorpos
após a infeção e desenvolvimento
da doença.
Seja como for, as medidas de higiene e
etiqueta respiratória deverão ficar na
nossa rotina, mesmo depois de nos
podermos ver livres das incómodas
máscaras e do distanciamento social.
Evitar o contágio
A vacina só no futuro estará disponível.
Por isso, todas as medidas
que evitem o contágio
são necessárias. Nós,
portugueses, até temos
tido comportamentos
adequados às necessidades:
primeiro com o isolamento
físico, de certo
modo compensado com
meios informáticos, telecomunicações,
que nos
permitiram não ficar em
isolamento social.
Os idosos têm sido os mais afetados:
para além de estar comprovado que
os casos mais graves têm acontecido
em maiores de 65 anos, também
psicologicamente são de uma forma
geral os mais frágeis: menor acesso
a informática, menos comunicação
com o exterior, mais isolamento.
Devemos fazer testes?
Os testes para serem fidedignos
devem ser muito sensíveis e específicos,
isto é, a percentagem dos
resultados falsos positivos e falsos
negativos deve ser baixa e nem todos
os testes cumprem estas condições.
Há testes para o diagnóstico e testes
para saber se a pessoa teve o contacto
com o vírus, não havendo testes
que assegurem a informação da
imunidade perante a doença.
Os testes só devem ser utilizados
para isolar, vigiar e tratar doentes
com doença ativa, protegendo as
outras pessoas sãs.
Lutar em várias frentes
Agora que o desconfinamento está
a progredir, aparentemente bem,
temos que lutar em várias frentes:
1) Retomar em passos cautelosos
a nossa vida anterior, sabendo
que é necessário cumprir as
normas sanitárias. Ou melhor, em
vez de regressar ao modo de vida
anterior, transformar os nossos
comportamentos individuais e
sociais em formas mais ecológicas
de viver. Segundo biólogos e
ecologistas, o homem tem muita
responsabilidade no surgimento
de múltiplas doenças: o lixo, a
poluição dos rios e dos mares, o
desmatamento, os pesticidas. Por
trás destes malefícios está sempre
a ambição capitalista.
2) Manter-nos informados, mas
evitando passar demasiado tempo
dependentes de televisões e jornais
que, por vezes, transmitem
falsas notícias e aumentam os receios.
Aqui fica o sítio oficial que
pode consultar sobre a COVID:
https://covid19.min-saude.pt/
3) Evitar o medo: o medo é a pior
pandemia, mesmo quando não
mata, prejudica muito a saúde
mental. Um indivíduo com medo
não tem a capacidade de realizar
os comportamentos necessários
à adaptação. Sente-se infeliz, incapaz.
Que cada um e todos em geral usemos
esta experiência para melhorar
o mundo que teremos no futuro e
que vamos deixar aos nossos filhos
e netos.
Depende de nós, dos nossos comportamentos,
das decisões políticas
e do que exigirmos com firmeza e
perseverança.
FUNDAÇÃO PORTUGUESA DO PULMÃO
E as outras doenças?
José Miguel Carvalho
Médico
Em tempos de pandemia, é necessário não
esquecer as outras doenças!
Do ponto de vista individual, cada um de
nós tem que ter presente que não podemos
deixar arrastar sintomas – devendo recorrer
aos serviços de saúde. Parece que só há CO-
VID-19, mas a maior parte dos problemas
de saúde são outros, e sabe-se bem que
um diagnóstico precoce e um tratamento
bem conduzido são essenciais para a nossa
vida presente e futura. Se a febre e a tosse
são frequentes no COVID-19, são também
sintomas de várias infeções respiratórias –
bronquites, pneumonias, tuberculose – que
são doenças curáveis, para as quais temos
medicamentos eficazes.
É preciso não atrasar a ida ao médico. Existem
várias doenças crónicas respiratórias
que podem ter agudizações, como a asma
ou a DPOC (doença pulmonar obstrutiva
crónica), que não estão a ter resposta nestes
tempos de crise. Se a falta de ar se está
a acentuar, apesar dos inaladores, a ida à
urgência é fundamental.
Nas doenças oncológicas também é sabido
que a deteção precoce é importantíssima
para um bom controle – não adiar!
A nível mundial os governos têm que ter
cuidado de não descurar as outras doenças,
nomeadamente nos países com graves
carências.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e
outras organizações alertam que, no caso
da tuberculose, um atraso de três meses
no diagnóstico conduzirá a um aumento
de casos e da mortalidade, mas também
a um recuo na evolução epidemiológica.
A redução da intervenção em doenças como
a malária (com menos intervenção preventiva
e terapêutica) e na poliomielite (com
redução das campanhas de vacinação) tem
riscos gravíssimos para o seu controle e
conduzirá a uma maior mortalidade.
No nosso País, alertas têm sido feitos a propósito
dos acidentes vasculares cerebrais e
dos enfartes de miocárdio – não subestimar
os sintomas de suspeição e não adiar a ida
à urgência!
Manter o contacto com os nossos serviços
de saúde; para além do COVID-19 e dos
confinamentos há vida para viver.