A Voz dos Reformados - Edição n.º 165 Maio/Junho 2020 | Page 2

2 A Voz dos Reformados | Maio/Junho 2020 Em foco Revolução e Mulheres Elas fizeram greves de braços caídos. Elas brigaram em casa para ir a o sindicato e à junta. Elas gritaram à vizinha que era fascista. Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas. Elas vieram para a rua de encarnado. Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água. Elas gritaram muito. Elas encheram as ruas de cravos. Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes. Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua. Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo. Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas. Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra. Elas choraram de verem o pai a guerrear com o filho. Elas tiveram medo e foram e não foram. Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas. Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro uma cruzinha laboriosa. Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões. Elas levantaram o braço nas grandes assembleias. Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos. Elas disseram à mãe, segure-me aí os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é. Elas vieram dos arrebaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada. Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão. Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens. Elas iam e não sabiam para onde, mas que iam. Elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado. São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas. Maria Velho da Costa, uma das escritoras maiores da literatura portuguesa, feminista, antifascistas morreu no dia 23 de Maio, em Lisboa, aos 81 anos. Aumento extraordinário das pensões A partir do mês de Maio, um milhão e 800 mil reformados e pensionistas tiveram um aumento extraordinário nas suas pensões. Prevista no Orçamento do Estado para 2020, esta atualização extraordinária vai traduzir-se num aumento de 10 euros para os 1,3 milhões de pensionistas com pensões de valor até 1,5 Indexantes de Apoios Sociais (IAS), ou seja, até 658,22 euros, e de seis euros para os cerca de 600 mil reformados que recebem, pelo menos, uma pensão cujo montante fixado tenha sido atualizado no período entre 2011 e 2015. A Direção da Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos – MURPI, em nota de 4 de Maio, considera «positivo» que, à semelhança de 2017, 2018 e 2019, em 2020 «também exista um aumento extraordinário para recuperar o poder de compra das pensões que estiveram congeladas durante o período da troika, já que o mecanismo legal de atualização das pensões aplicadas em Janeiro do corrente ano não repõe o poder de compra perdido em 2019 e muito menos o que foi perdido durante os anos em que as pensões estiveram congeladas». No seu caderno reivindicativo, o MURPI defende um aumento de todas as pensões com a garantia de um CADERNO REIVINDICATIVO 2020 ESTRATÉGIA NACIONAL PARA O ENVELHECIMENTO De regresso à normalidade possível após o estado de emergência, o Programa de Ação aprovado no IX Congresso do MURPI, realizado a 25 de Novembro de 2018, faz todo o sentido e é importante relembrá-lo. Está ancorado na justeza de ser adotada uma Estratégia Nacional sobre a problemática do Envelhecimento, fundamentada na Constituição da República Portuguesa, nos valores e ideais de Abril, que rompa com os objetivos e consequências resultantes das políticas realizadas por sucessivos governos ao longo das últimas décadas e com a subordinação às orientações da União Europeia em matéria de envelhecimento. O MURPI assume, como prioridade, uma ação de debate e esclarecimento continuado na dinamização da luta dos reformados, pensionistas e idosos, na defesa dos seus direitos específicos que são parte integrante do Portugal de Abril que queremos construir, mais justo e solidário para com todas gerações, com progresso social e respeito pela sua soberania nacional. Assim, o MURPI exige que a Estratégia Nacional sobre O MURPI continuará a sua intervenção e luta visando a concretização da recuperação do poder de compra dos pensionistas e a melhoria dos serviços públicos, nomeadamente do SNS aumento mínimo de 10 euros a partir de Janeiro de 2020 e uma alteração no mecanismo legal de atualização das pensões, por forma a repor o poder de compra, independentemente do seu valor, com uma atenção especial às pensões mais baixas para reduzir o risco de pobreza entre os reformados e aposentados. a problemática do Envelhecimento seja sustentada em políticas transversais de atuação multidisciplinar que comprometa o poder central com os seguintes objetivos: • Criar as condições para que «Viver Mais Tempo» signifique viver melhor, com qualidade de vida, bem-estar físico, psicológico e social; • Respeitar o direito dos reformados, pensionistas e idosos e das suas organizações representativas, pelo valor das suas reivindicações em defesa deste grupo social; • Adotar medidas adequadas à prevenção e combate à pobreza, ao isolamento social entre idosos, às desigualdades sociais, bem como de respostas às necessidades específicas na doença e na dependência; • Valorizar a participação cívica, cultural e social da população que se encontra na terceira idade, como cidadãos e cidadãs de pleno direito, como vetor indissociável do aprofundamento da democracia participativa em Portugal.