A Voz dos Reformados - Edição n.º 164 A Voz dos Reformados - Edição n.º 164 | Page 4

4 A Voz dos Reformados | Março/Abril 2020 Março/Abril 2020 | A Voz dos Reformados Actual 5 Actual Reformados e utentes exigem respostas para os problemas na Saúde Em 2020, persistem e agravam-se os problemas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Diariamente, utentes e profissionais de saúde debatem-se com situações de rotura: mais de meio milhão de portugueses sem médico de família, doentes que desesperam por uma consulta ou cirurgia, faltam de médicos, enfermeiros, técnicos superiores e de diagnósti- co e terapêutica, assistentes técnicos e operacionais. Problemas que são fruto de opções políticas, de sucessivos governos, de desinvestimento no SNS. tacou Bernardo Loff Barreto, médico no Hospital de Beja e da Direção Nacional da Confederação. Antes, no dia 28 de fevereiro, centenas de profis- sionais e utentes de saúde do Litoral Alenteja- no concentraram-se em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, para reclamar mais e melho- res cuidados. Segundo as comissões de utentes, naquela região mais de 10 mil utentes não têm médico de família e existem localidades onde a população só tem cuidados médicos de 15 em 15 dias. F artos de promessas e de anúncios, um pou- co por todo o País, utentes e trabalhadores saem à rua para defender um SNS geral, universal e gratuito. No dia 29 de fevereiro, em Beja, realizou-se uma marcha em defesa da saúde, entre as Portas de Mértola e o Hospital José Joaquim Fernandes. O protesto foi promovido pela recente Comissão de Utentes de Saúde de Beja que, entre outras medidas, exige que o Governo inicie a 2.ª fase do Hospital Distrital, bem como mais médicos, enfermeiros, auxiliares e meios de diagnóstico. Os associados das várias associações do MURPI no distrito têm dado o seu apoio a este movimen- to de utentes, colaborando nas suas iniciativas. «A participação em democracia não acaba no dia das eleições; passa também pela participação ativa de cada um de nós, de todos nós, informan- do-nos e desmontando criticamente as notícias que nos são dadas pela comunicação social com o fim de descredibilizar o SNS, fazendo ouvir a nossa voz nas diferentes estruturas do MURPI e participando em movimentos de utentes em defesa do SNS, como o de Beja. Só lutando se conseguirão alcançar os nossos objetivos», des- Mais a Norte, a Comissão de Utentes do Centro de Saúde de Penacova alertou, no início do mês de março, para o facto de milhares de pessoas poderem ficar sem médico de família devido à aposentação de três destes profissionais. Nas últimas semanas, também os utentes de Seia, pela contratação de mais profissionais para o SNS, do Seixal e de Almada, contra o encerramento noturno da Ur- gência Pediátrica do Hospital Garcia de Orta, do Algarve, contra a degradação dos hospitais, saíram à rua em defesa do SNS. Ataque à Revolução Sublinhando que o SNS «é uma das grandes conquistas da Revolução» de 1974, José Manuel Sampaio, também da Direção Nacional do MURPI, fez um historial deste serviço, no início geral e gratuito, que «começou a ser combatido quase desde o início dos seus fundamentos». «Nos anos 80 (do século passado) pas- sou a ser tendencialmente gratuito, o que abriu as portas a pagamentos: taxas moderadoras de consultas e exames complementares», recordou à Voz dos Reformados, adiantando: «Nos anos 90, com o governo de Cavaco Silva, foi aprovada legislação que am- pliava a intervenção privada no SNS». «Os sucessivos governos não controla- ram o crescimento e hoje já setores da medicina quase completamente priva- tizados», alertou, progressão das A Constituição da República Portuguesa dando conta do carreiras médicas crescimento de e de enfermagem, consagra o direito à saúde para todos, empresas presta- as baixas remu- independentemente das condições doras de serviços nerações, o sub- económicas e sociais de cada um, cabendo ao ao Estado «com financiamento contratos na he- crónico do SNS, Estado assegurar a prestação de cuidados de modiálise, fisio- alguns equipa- saúde com qualidade e em tempo útil. terapia e meios mentos hospita- complementares lares obsoletos, de diagnóstico: imagiologia e análises clínicas». levaram a que muitos profissionais de saúde Segundo José Manuel Sampaio, tam- optassem por se transferir para o setor privado bém aumentaram as parcerias público ou encontrassem na emigração a sua realização -privadas (PPP) nos hospitais, o setor profissional», concluiu. convencionado e a concessão contra- Saúde para todos com o SNS tual de equipamentos intra-hospitala- res, a par do internamento hospitalar No Caderno Reivindicativo do MURPI para 2020 e dos seguros de saúde. «Apareceram afirma-se que o Serviço Nacional de Saúde (SNS), empresas privadas de recursos huma- com 40 anos de existência, é «um dos melhores a nível mundial». nos e os serviços dos médicos e dos enfermeiros começaram a ser contra- «Apesar da degradação, descrédito e mau funcio- tualizados, sobretudo para os serviços namento, consequência das políticas neoliberais de urgência», lamentou. Transformar a doença em lucro Simultaneamente, os seguros de saú- de ligados ao grande capital: bancos, seguradoras, grupos privados de saúde, com destaque para o Grupo José de Mello, em 20 anos, cresceram cinco vezes, de 500 mil para 2,5 mi- lhões de euros, «uma forma de fidelização dos clientes», segundo o dirigente do MURPI. As críticas estendem-se à desvalorização dos centros de saúde, a «porta de entrada do SNS». «A consequência está à vista de todos, com a super-população nos Serviços de Urgência, enormes atrasos no atendimento, contratação suplementar de recursos humanos e pagamento de horas extraordinárias», mas também «com o aumento da despesa pública, mas sem o grau de satisfação associado, exploração constante do ambiente de descontentamento pela comunica- ção social, criando uma atmosfera de descrédito do setor público de saúde, da qual aproveita em seu benefício o privado», disse ainda José Manuel Sampaio. Também a «suspensão quase generalizada da dos governos do PS, PSD e CDS», o SNS «conti- nua a ser o único serviço de saúde público que garante a universalidade de cuidados de saúde às populações», assegura o documento, onde se reclama uma intervenção «urgente» que trave o processo de destruição do SNS, com um «maior investimento do Estado em recursos financeiros, estruturais (tec- nológicos), humanos (profissionais de saúde)», que «contribua para a sua defesa no cumprimento das funções para que foi criado, em todo o País». Prioridades prementes O MURPI defende, igualmente, que a rede de cuidados primários de saúde «tem de ser reorganizada, com centros de saúde com instalações adequadas e acessíveis, dotados de meios humanos – médicos, enfermeiros de família e outros profissionais – que respondam às necessidades crescentes e especí- ficas de uma população em franco Reivindicações para 2020 envelhecimento». Inadiável é, também, a «prestação de cuidados de saúde de qualidade e de proximidade, assegurados pela gestão pública, com resposta atempada e ar- ticulada com outros níveis de cuidados de saúde: hospitais, rede de cuidados continuados e rede de cuidados palia- tivos, assegurados pela gestão pública» e que os «centros de saúde assegurem cuidados médicos e de enfermagem de vigilância e de tratamento às pessoas idosas e dependentes a residirem nos lares de terceira idade». Os reformados, pensionistas e idosos reclamam, ainda, a construção de uni- dades hospitalares já anunciadas (hospitais do Seixal, Oriental de Lisboa, Central do Alentejo, Central do Algarve e do Funchal) e de outras que respondam às necessidades das populações, com gestão pública de acordo com o espírito da Lei de Bases da Saúde. • Abolição de todas as taxas mo - deradoras; • Gratuitidade do tratamento me - dicamentoso e outros destinado s a doentes crónicos com mais de 65 anos de idade; • Implementação da unidose na farmacologia; • Reforço da vacinação gratuita da população idosa, incluindo a vaci- nação contra a pneumonia; i- • Valorização e capacitação em cu te dados geriátricos, nomeadamen a de profissionais de saúde, com - melhoria das condições de traba lho; s • Financiamento de transporte às não urgentes para a frequência consultas; • Melhor acesso aos cuidados te- - rapêuticos de recuperação e rea bilitação; i- • Criação da rede pública de cu dados continuados e da rede de cuidados paliativos; - • Manutenção da ADSE como sis s tema complementar de saúde do o funcionários públicos com gestã participada.