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A Voz dos Reformados | Março/Abril 2020
Março/Abril 2020 | A Voz dos Reformados
Em foco
Em foco
Joaquim Ricardo, presidente da ARPI
“O trabalho reivindicativo
do MURPI é excelente”
Entrevista feita por
Joaquim Gonçalves e Zita Salema
Fala-nos um pouco da ARPI?
Fundada a 27 de junho de 1980, a associação filiou-
se no MURPI porque pertencemos ao movimento
associativo específico dos reformados e temos que
lutar pela defesa dos direitos sociais dos reforma-
dos, pensionistas e idosos.
Com cerca de 2500 associados, as instalações e sede
são da propriedade da ARPI, instituição que presta
apoios sociais, protocolados com a Segurança Social,
nas vertentes de Centro de Convívio (50 utentes),
Centro de Dia (30 utentes) e apoio domiciliário (50
utentes). A atividade de convívio diário é muito
superior ao protocolo existente. Procuramos que os
utentes a que damos apoio sejam nossos associados,
o que acontece na sua grande maioria.
Que outras ações promovem?
Para além da socialização diária dos sócios, com os
jogos de mesa e a organização de bailes com uma
periodicidade quinzenal, ensaiamos um teatro de
revista, a “APRI-sempre em festa”, com dez saídas
anuais a associações congéneres e temos o Grupo
Coral e Musical “Alegres dá vida”. Fazemos, por ano,
cinco passeios para os utentes do Centro de Dia e
duas excursões para os associados. Temos ainda
uma atividade de pintura e existe um grupo de
sócios que pratica malha corrida e cicloturismo.
É preciso um grande apoio logístico...
A associação tem dois amplos espaços para con-
vívio: café-bar e salão com palco, onde têm lugar
os espetáculos, os bailes, as assembleias de sócios
e as reuniões. Temos, igualmente, uma cozinha
muito bem equipada, um refeitório, Centro de Dia,
secretaria e duas salas para trabalho da direção. Para
apoio, existem 20 trabalhadores e quatro viaturas de
apoio domiciliário, uma delas própria para pessoas
com deficiência motora.
A gestão da atividade cultural é feita pela direção e
por grupos de associados. As pequenas reparações,
muitas vezes, são feitas pelos associados, uma vez
que possuímos uma oficina muito bem equipada
para o efeito.
Como é o relacionamento com o Poder Local?
Existem boas relações com a Câmara Municipal
que, entre outros apoios, cede dois autocarros por
ano para as nossas deslocações.
E relativamente ao Poder Central?
Partilhamos o descontentamento relativamente ao
subfinanciamento existente em relação aos valores
dos acordos com a Segurança Social, que leva a
que muitas associações congéneres estejam com
situações financeiras muito graves.
Estamos de acordo com uma moção, aprovada
recentemente, da UDIPSS de Setúbal, onde é exi-
gido, entre outras medidas, que os fatores externos
às associações, que impliquem um aumento dos
custos, sejam acompanhados por aumentos per-
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Joaquim Ricardo, presidente da Associação de Reformados,
Pensionistas e Idosos (ARPI) de Pinhal Novo
centuais equivalentes nos valores acordados, que se
crie um modelo de cooperação e comparticipação
dos valores a transferir pelo Estado, que tenham
em consideração a variabilidade dos rendimentos
dos utentes.
Qual a importância do MURPI?
O trabalho reivindicativo do MURPI é excelente.
Procuramos estar nas iniciativas que a Confede-
ração programa, divulgamos as suas iniciativas e
convidamos a direcção para os festejos e aniversá-
rios promovidos por esta associação. Todos os anos
participamos com o nosso Grupo Coral e Musical
no Piquenicão nacional e distrital.
Simultaneamente, estamos disponíveis para ceder
as nossas instalações para as iniciativas promovidas
pela Confederação e Federação Distrital de Setúbal,
tal como temos feito no passado, e a aumentar a
quota a pagar ao MURPI, que anualmente é de
125 euros.
Eutanásia
Manuel Cruz
O termo eutanásia foi criado no século XVII pelo
filósofo inglês Francis Bacon. Designava a “eutaná-
sia interna” que definia como “o sossego e purifica-
ção da alma antes de se finar na graça do senhor”.
Em 1869, o termo passou a ser utilizada para de-
signar a eutanásia externa, como seja a ação de
induzir suave e facilmente a morte de doentes in-
curáveis ou terminais com o mínimo de sofrimen-
to, o que corresponde ao que está atualmente em
discussão. Nestes casos, a eutanásia pode ser ativa
(agentes químicos ou semelhantes) ou passiva,
por omissão de cuidados médicos ou interrupção
de tratamentos.
Para completa definição devem ainda ser conside-
rados aspetos piedosos, económicos ou eugénicos.
Mas, tenha-se em conta que a eutanásia económi-
ca ou eugénica nunca foi legalmente tolerada em
nenhum país do mundo, nem se prevê que possa
vir a ser, pelo que em qualquer os casos apenas a
eutanásia piedosa seja de considerar.
É ainda importante saber que a oposição da euta-
násia, a distanásia, é a prática que pretende retar-
dar, o mais possível, o momento da morte de um
doente moribundo afetado por doença irreversível
e incurável.
Quanto à situação atual, tenha-se em conta que a
eutanásia involuntária, ou seja, não decidida pelo
próprio, é ilegal em todo o mundo. A voluntária é
legal na Holanda, Bélgica, Luxemburgo e Colôm-
bia. Uma variante designada por “suicídio medica-
mente assistido” é permitida na Suíça, Alemanha,
Canadá e em cinco estados dos EUA.
Diz o bom-senso que uma decisão sobre uma
questão irrevogável só pode ser tomada quando
há certezas absolutíssimas. Será que os deputados
que aprovaram as leis da eutanásia tiveram esta ir-
reversibilidade em conta?
* Documento de apoio à aula na Universidade Sénior
da Marinha Grande
CADERNO REIVINDICATIVO 2020
Direito a envelhecer
numa habitação condigna
A especulação do imobiliário em Portugal tem pro-
movido o êxodo dos trabalhadores e das pessoas
idosas para as periferias, privilegiando os espaços
habitacionais recuperados, dos centros das cida-
des, para pessoas com elevado poder de compra.
Esta situação cria maiores dificuldades no apoio
familiar e de solidariedade intergeracional devido
às pessoas idosas.
A recente aprovação na Assembleia da República da
Lei de Bases da Habitação cria justas expetativas na
materialização do direito à habitação, consagrado
na Constituição da República Portuguesa (CRP).
Esta lei irá por cobro aos desmandos dos senhorios
sobre os inquilinos em geral, e sobre o inquilino
idoso em particular, visando assegurar às pessoas
com mais de 65 anos de idade a defesa e preservação
da sua habitação.
Por tudo isto, o MURPI reivindica:
• O direito de as pessoas idosas envelhecerem
no local onde criaram as suas referências sociais
e pessoais;
• A implementação da experiência de constru-
ção de habitações destinadas a pessoas idosas
integradas em espaços urbanos onde coabitam
outras gerações, bem como outras alternativas à
construção de lares residenciais públicos;
• Serviços da Segurança Social que, em parceria
com os serviços de saúde e as forças da segurança
pública, desenvolvam uma rede de cuidados a
prestar à população idosa;
• O aproveitamento, pelo Estado, do edificado
público para habitação, com rendas acessíveis e
apoio financeiro a famílias com carência econó-
mica e fragilidade social.
MURPI na Manifestação
Nacional de Mulheres
de que a prostituição é uma ex-
ploração e uma grave forma de
violência sobre as mulheres e
crianças; estímulo à participa-
ção social, política, cultural e
desportiva das mulheres.
No final, o MDM anunciou que
em 2021 se voltará a comemo-
rar o Dia Internacional da Mu-
lher com a realização da Mani-
festação Nacional de Mulheres,
a 7 de março, no Porto, e a 13 de
março, em Lisboa.
Sob o lema «A força da unidade em defesa dos di-
reitos das mulheres e pela paz no mundo!», mi-
lhares de pessoas, vindas de todos os distritos do
País, participaram, no dia 8 de março, em Lisboa,
na Manifestação Nacional de Mulheres. A Confe-
deração Nacional de Reformados, Pensionistas e
Idosos – MURPI esteve presente na ação promo-
vida pelo Movimento Democrático de Mulheres
(MDM), onde esteve patente a luta das mulheres
no mundo inteiro pelos seus direitos e pela paz.
Entre os Restauradores e a Ribeira das Naus, as
mulheres desfilaram reivindicações pelo direito ao
trabalho com direitos, contra a precariedade e as
discriminações; à maternidade-paternidade sem
penalizações; aumento geral dos salários e do sa-
lário mínimo nacional para 850 euros; redução do
horário de trabalho e contra os horários desregula-
dos; valorização das carreiras profissionais; servi-
ços públicos de qualidade; políticas de prevenção
e combate à violência doméstica; reconhecimento
O mar dos meus olhos
Há mulheres que trazem
o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alm
a
E trazem a poesia nos de
dos
/ e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as
levasse
Da pra ia onde foram felize
s
Há mulheres que trazem
o mar nos olhos
pela grandeza da imensid
ão da alma
pelo infinito modo como ab
arcam
/ as coisas e os homens
...
Há mulheres que são maré
em noites
/ de tardes...
e calma
Sophia de Mello Brey
ner Andresen
in Obra Poética
Piquenicão regressa
a Alpiarça por melhores
condições de vida
O concelho de Alpiarça volta a acolher, no próxi-
mo dia 21 de junho, o 25.º Piquenicão Nacional
do MURPI. A maior festa dos reformados e pen-
sionistas do País será marcada pela reivindicação
de aumentos para todas as pensões, melhoria
dos serviços públicos e condições de vida dignas.
Durante todo o dia, no Piquenicão vão estar mui-
tos milhares de reformados e suas famílias, de
todo o País, e atuarão largas dezenas de grupos
de cantares e musicais das associações e organi-
zações de reformados. As inscrições podem ser
feitas até ao dia 30 de Abril.
No local haverá um bar onde serão vendidas
sandes e bebidas, apelando-se a todos os parti-
cipantes que levem o seu farnel. Sugere-se ainda
que cada pessoa leve um banquinho portátil
e recomenda-se o uso de chapéu e do creme
protetor solar. Não será permitida a realização
de sorteios, nem venda de rifas que não seja por
iniciativa do MURPI.
Como não podia deixar de ser, a iniciativa conta
com o apoio da Câmara Municipal de Alpiarça
que vai garantir as melhores condições de aco-
lhimento e bem-estar neste dia alegre e festivo.
E D I T O R I A L
Mais abril na defesa
dos nossos direitos
Portugal e o mundo está a atravessar um dos
piores momentos da humanidade: a eclosão
de uma pandemia (COVID-19), a par do so-
frimento e milhares de migrantes vítimas da
guerra e da miséria.
No nosso País, as preocupações centram-se
na capacidade da resposta do Serviço Nacio-
nal de Saúde (SNS) ao imperativo de informar
com transparência a população, rastrear os
contactos, manter a vigilância epidemiológica
e tratar adequadamente as situações clínicas
que necessitam de internamento.
Temos que aplaudir o trabalho incansável de-
senvolvido pelos profissionais de saúde, nem
sempre com as condições mais auspiciosas,
que merecem o reconhecimento público.
O SNS demonstrou que é o serviço público de
saúde, a única entidade capaz de dar respostas
adequadas em todo o território nacional e, por
esta razão, motivo para que se exija das autori-
dades públicas o reforço do investimento em
meios humanos e financeiros.
Particular atenção é devida à situação das pes-
soas idosas, mais vulneráveis, não só pela idade
avançada, mas também pelas graves condições
sociais que atinge a grande maioria deste grupo
populacional.
Em nome e com as pessoas idosas, reafirmamos
a nossa luta pela defesa do direito à saúde, a
par de outros tantos direitos reconhecidos no
Caderno Reivindicativo do MURPI para 2020,
que correspondem a medidas específicas pelas
quais lutamos para a sua concretização.
Celebrámos o Dia Internacional da Mulher com
a participação na imponente Marcha Nacional,
no dia 8 de março, em Lisboa, onde as mulheres
reformadas também expressaram a exigência
pelo direito a envelhecer com dignidade ao lado
de todas e todos, de todas as idades.
Em abril, iremos marcar presença e reafirmar a
nossa disponibilidade em tornar perenes os va-
lores conquistados pela Revolução dos Cravos.
É pela afirmação e defesa dos direitos e pela
luta necessária para a sua conquista e usufruto
que teremos de prosseguir esta caminhada
que, sendo difícil, não é impossível de alcançar.
Tenhamos força, confiança e determinação
que o caminho se faz caminhando sempre com
mais abril na defesa dos nossos direitos.
Casimiro Menezes
a voz dos reformados
Diretor: Casimiro Menezes • Conselho
Editorial: António Valverde, Casimiro
Menezes, Joaquim Gonçalves, Jorge Figueiredo, Manuel Passos, Manuel
Pinto André, Maria Amélia Vicente, Vitor Lopes • Colaboradores: Anita Vilar,
António Bernardo Colaço, Conselho Português para a Paz e Cooperação
(CPPC), Coutinho Duarte, Isabel Quintas, José Manuel Sampaio, Manuel Cruz,
Zillah Branco, José Núncio e Eduardo Baptista • Design Gráfico: Fernando
Martins • Propriedade, Administração e Redação: Confederação Nacional
de Reformados, Pensionistas e Idosos/MURPI (70.000 sócios) • Rua de Ovar,
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dicidade: Bimestral • Tiragem: 2.000 exemplares.
Isento de registo no ICS ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99 de 9 de
Junho, 12.º, n.º 1 a) • NIF: 500816794 • Depósito Legal n.º 67124
Jor nal dos Refor mados, Pensionistas e Idosos