Receita para uma ditadura
Pegue uma crise econômica, adicione à uma crise política-partidária, misturando com medidas antidemocráticas que retirem direitos de boa parte da população e a impopularidade do governo. Não esqueça de forrar a forma com uma constituição frágil. Deixe a mistura descansando por um tempo até que se formem mobilizações populares e ofensivas do estado e da classe média, podendo assim ser levado ao forno um cenário propício à instauração de uma ditadura.
Baseado na descrição de Caio Navarro de Toledo em um artigo para a Revista Brasileira de História (v. 24, nº 47, p. 13-28, 2004), este foi o cenário que antecedeu o golpe militar de 1964 e pode ser relacionado a outros cenários que antecederam governos autoritários, assim admitindo como a solução para a desordem vigente, um governo forte e disciplinador.
O desejo de manter a ordem é um dos elementos mais gritantes para a admissão de um governo de teor militarista, já que o próprio exército seria uma figura relacionada à obediência, sendo, porém, uma contradição ao que é postulado por Weber quanto ao estado possuir o monopólio da força. Esta contradição se dá por conta de um golpe militar ser a tomada do estado por membros do exército de um país, fazendo com que o recurso que teoricamente deveria manter sua soberania, tornasse-se o próprio mecanismo de sua derrubada.
Assim, movimentos sociais e debates políticos em torno das reformas base e da condição da nação são tidos como formas de rebeldia e desordem sendo severamente reprimidos. Outra medida para a manutenção da “serenidade” seria a restrição do que é transmitido pela mídia e em consequência a alienação da população, levando-a não criticar atitudes do governo e denunciar os seus próprios vizinhos.
No entanto, em meio ao terreno esterilizado pela brutalidade e repressão, germinava a silenciosa resistência, que traria libertação.
Por: Ana Ferrari