A crise não parece ter fim PD48 | Page 36

O esgotamento da Era Vargas Luiz Carlos Azedo O nacional populismo A agenda do governo se esgota com as reformas da previdência e tributária. E a sociedade brasileira não tem um projeto de futuro, caminha para o pleito de 2018 com os olhos no passado A delação premiada dos acionistas e executivos do grupo JBS desnudou os males do nosso capitalismo de laços, prestigiado e ampliado durante os governos petistas por meio da estratégia dos “campeões nacionais” adotada pelo BNDES sob comando de Luciano Coutinho. Esta política lançou o país na maior recessão de nossa história, fracassou devido à redução do ritmo de crescimento da China e à crise mundial, que encerraram a grande onda de expan- são da economia global. E também porque fracassou a tentativa de adensamento da cadeia produtiva nacional, em vez de sua transna- cionalização, que serviu muito mais à formação de cartórios e à corrupção sistêmica do que à salvação da indústria nacional. Esta é a base estrutural, digamos assim, do colapso do modelo de capitalismo de Estado adotado pelos ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Apesar de ultrapas- sado pela chamada quarta revolução industrial, porém, o nacio- nal desenvolvimentismo não morreu nos corações e mentes de uma parcela da população brasileira, que não associa este fracasso ao impeachment de Dilma. Vem daí o relativo sucesso da narrativa do golpe adotada por aqueles que não querem rever as ideias velhas. Há um caldo de cultura para isso. Para a população mais pobre, o nacional-desenvolvimentismo está profundamente associado à Era Vargas, aos direitos traba- lhistas da antiga CLT de inspiração fascista; para setores da classe média, às realizações econômicas dos anos dourados do governo de Juscelino Kubitschek, cujo estilo e simpatia marca- ram o processo de industrialização do país. JK manteve a estabi- lidade política, alcançou uma taxa de crescimento real de 7% ao ano e dobrou a produção industrial. Acontece que o nacional desenvolvimentismo nunca foi monopó- lio de Vargas e de Juscelino. Nos anos de chumbo, esta estratégia 34