A crise não parece ter fim PD48 | Page 158

a reciclagem e outras práticas sustentáveis que podem servir de exemplo. Os exemplos da comuna de Monteveglio, na Província de Bolonha, Itália, e das cidades arroladas no European Green Cities Index, mostram que a opção por modificar os padrões de consumo e fixar metas de economia de energia e de redução de emissões de CO 2 é perfeitamente viável. À visão de governança global, trazida por Jackson (2009), se soma a visão de convencimento virtuoso trazida por Beinhocker (2007). Em um diálogo com um chefe tribal Massai, no Kenya, Beinhocker intui que os complexos sistemas natureza e socie- dade poderiam continuar em harmonia se o conceito de riqueza e as “tecnologias sociais” fossem equivalentes aos padrões adota- dos pelos Massai, os quais possibilitam que as aberturas do sistema produtivo não cheguem a desorganizar a natureza como sistema fechado, mantendo as atividades produtivas em um nível de baixa entropia. Nesse diálogo, o chefe tribal definia sua identidade como asso- ciada a uma série de animais, árvores e áreas plantadas necessá- rios para sua sobrevivência, intuindo-se daí que ele não necessi- taria de nada mais. Obviamente que, para ser verdade, a população mundial deveria parar de crescer e de aumentar o seu consumo, renunciando à acumulação individual, à riqueza, vide Beinhocker (2007), Heringer (2008) e Lovelock (2006). Tais argumentos sugerem que a prosperidade sem cresci- mento além de ser uma necessidade financeira e ecológica é a via estratégica de uma nova civilização que bloqueará a destrui- ção planetária. Dando os primeiros passos estar-se-á cons- truindo uma outra civilização. Considerações finais e propostas Os itens anteriores permitem especular que ao homem que construiu a civilização da acumulação e do consumo cabe criar outra civilização na qual a obsessão por bens materiais não seja determinante de felicidade e realizações. Uma civilização que reestabeleça um equilíbrio com a natureza que existiu desde que os hominídeos apareceram, 50 milhões de anos atrás, até cerca de 2000 anos atrás. Para tanto, o foco da valorização humana deixará de ser o capital nas suas diversas formas, produtivo, especulativo, patrimonial etc., para ser o capital natural que 156 Amilcar Baiardi