A Capitolina 9, setembro 2014 | Page 16

Tudo começa com uma simples tarefa para a escola: escrever uma carta para alguém que já morreu. A escolha mais lógica para Laurel seria escrever uma carta para sua irmã, May, mas não é isso o que ela faz. Laurel prefere escrever cartas para famosos que já se foram mas de algum jeito permaneceram aqui, como Kurt Cobain, Janis Joplin e Heath Ledger. O que parecia uma simples lição de casa logo se transforma na maneira que essa adolescente encontrou de lidar com seu primeiro ano em uma escola nova e com a família despedaçada.

Laurel preferiu mudar de escola a encarar todos os rostos familiares do Sandia, escola que ela e May frequentavam. Sem saber ao certo como se comportar nesse ambiente totalmente novo, Laurel se inspira em May. Para ela, May sempre foi incrível! Uma menina extrovertida, simpática, descolada e que iluminava os lugares em que entrava com seu espírito livre, fazendo amigos com muita rapidez. Além de melhor amiga, May era a heroína de Laurel, sempre pronta para protegê-la de todo o mal, principalmente depois da separação dos seus pais. Aos poucos, Laurel começa a se ajustar ao novo colégio e se torna amiga de Hannah e Natalie, duas garotas tão descoladas quanto May era. Com tantas possibilidades pela frente, Sky surge e Laurel começa a se interessar por esse garoto mais velho, cercado de mistérios e que sabe quem ela é: a irmã de May.

Por meio de suas cartas, Laurel mostra a dificuldade que ela tem em se comunicar com seus amigos e parentes, preferindo conversar com pessoas que a inspiram, e tenta entender o que se passava pela mente de sua irmã nos últimos meses de sua vida. Será que May era tão perfeita quanto Laurel pensava? Será que ela realmente conhecia a irmã mais velha?

Escrito inteiramente na forma de carta, este é um livro pesado, estilo sick-lit, cheio de drama e referências musicais dos anos 80. E foi escrito de forma muito interessante; dependendo sobre o que/de quem a Laurel quer falar, ela escreve para alguém em particular. Quando Laurel quer falar sobre a mãe, que foi para a Califórnia depois da morte da May, Laurel escreve para Judy Garland; Amy Winehouse parecia ser a pessoa certa para contar sobre as loucuras e imprudências que Hannah, Natalie e Laurel faziam; e quanto o assunto era Sky, ela preferia escrever, na maior parte do tempo, para Jim Morrison.

Temas típicos da adolescência, como o primeiro amor, a descoberta da sexualidade e a busca por uma identidade, são abordados no livro. Receio que Ava Dellaira tenha exagerado um pouco na quantidade de drama no seu primeiro livro – talvez a história de Laurel superando a morte de May enquanto tenta conhecer a si própria e a irmã, se adaptar à uma nova vida e com a ausência de pessoas queridas já fosse o bastante. Porém isso não desmerece o talento de Ava Dellaira. Ela conseguiu passar para o papel todo o carinho e cuidado que ela teve ao elaborar o enredo de Carta de amor aos mortos, e isso deu um toque totalmente especial ao livro. A maneira com que ela escreveu e os detalhes por detrás da história são admiráveis.

lançamento

Carta de Amor aos Mortos

Bruna F. Monteiro