temas comuns aos pré-adolescentes, como amizade, namoro, descobrimento de si mesmo, de forma mágica, o que causa uma profunda identificação do leitor com as personagens, além de encantar seu público, que tem sua imaginação estimulada a cada página. Vale destacar, também, o fato de que a obra mais vendida entre os anos de 1994 e 2004, O pequeno príncipe, tenha sido escrita na década de 40, e é lida, no entanto, até os dias atuais. Esse clássico da literatura francesa foi escrito pelo autor, jornalista e piloto francês Antoine de Saint-Exupéry, no ano de 1943, um ano antes de sua morte. De todas as obras do autor, essa é, sem dúvida, a mais conhecida. Externamente, parece ser um simples livro para crianças, mas O Pequeno Príncipe é, na verdade, um livro que aborda temas profundos, sendo escrito de forma enigmática e metafórica.
A obra, poética e filosófica, foi traduzida para muitas línguas, como português, inglês, espanhol, italiano, entre outras. Também dela foram feitas histórias para serem ouvidas, filmes e desenhos animados, além de adaptações. Isso demonstra a universalidade dessa obra; sua permanência, até os dias atuais, nas listas dos livros mais vendidos é compreensível, visto que a obra aborda questões atemporais, tais como a amizade, a pureza da infância, a curiosidade que impulsiona as crianças nessa fase da vida, bem como suas descobertas e decepções. O sucesso da obra de Saint-Exupéry é inegável, sendo até hoje uma referência ao se tratar de literatura infanto-juvenil. Os leitores infantis dessa época também se interessaram por obras cujo alicerce era a comédia, como Uma professora muito maluquinha, que narra o método de ensino de uma professora muito inovadora que ousa devolver à sala de aula e aos alunos o entusiasmo que deles é, comumente, roubado, e O riso do menino maluquinho, que consiste em um pequeno livro de piadas para crianças, bem como as obras de tema comportamento/moral, como O livro das virtudes para crianças e O tesouro das virtudes para crianças, que ensinam às crianças valores como coragem, perseverança, trabalho, disciplina, responsabilidade, entre outros.
Já os jovens se interessavam por, além da fantasia, obras cujo gênero era adolescência/sexualidade, representado por Coisas que toda garota deve saber, explorando descobertas das meninas na transição da infância para a adolescência, e Mais coisas que toda garota deve saber, que ensina às leitoras algumas regras de etiqueta que toda menina bem comportada deve saber. As mudanças biológicas que ocorrem na adolescência trazem conflitos emocionais. Surge, então, a necessidade de adaptação, que deve ser interna e externa. É a fim de suprir essa necessidade que os dois livros que compõem o tema adolescência/sexualidade trabalham. O primeiro deles discorre sobre as mudanças que ocorrem no corpo da menina, explicando-as e, até mesmo, sugerindo soluções, como, por exemplo, técnicas para curar as acnes. Além disso, o livro ensina à leitora como se maquiar, como se vestir bem e dá dicas de como lidar com a timidez. O segundo livro desse tema é voltado para a sexualidade, discorrendo sobre temas como o estupro, a primeira relação sexual e o homossexualismo, e também para as regras de etiqueta, ensinando à leitora como se portar bem diante de diversas situações. O gênero juvenil que é representado apenas por uma obra, mas que não por isso pode-se dizer que era menos visado pelo público, visto que ele compareceu à lista dos mais vendidos, foi cultura/educação, cuja representação é O homem que calculava, que narra a história de um viajante que conhece vários lugares do Oriente, explorando conceitos da geografia e da matemática.
O livro apresenta, de forma romanceada, alguns problemas, quebra-cabeças e curiosidades da matemática. Em certa passagem narra, inclusive, uma das lendas da origem do jogo de xadrez. Na obra também são abordados alguns costumes da cultura Islã. Assim, percebe-se que, na década de 1980, enquanto as crianças apreciavam obras de entrelaçamento entre os códigos visual e escrito, no período de 1994 a 2004 elas passam a apreciar as obras de temas mais complexos, que tenham um conteúdo concreto, não apenas seqüências narrativas ilustradas. Já os jovens, que na década de 1980 elegeram o suspense como tema principal de suas escolhas, entre 1994 e 2004 buscam a fantasia e questões relacionadas à adolescência nos textos que escolhem para ler.
Não se pode deixar de observar que, enquanto na década de 1980 o gráfico representava sete obras infantis e apenas três juvenis, no período de 1994 a 2004 vêem-se cinco obras infantis e cinco juvenis. O fato de hoje, aparentemente, o jovem estar mais inserido ao mundo da leitura do que na década de 1980 pode estar relacionado ao surgimento da série best-seller de Harry Potter, que despertou o interesse pela leitura em jovens de muitos países, inclusive o Brasil. Ceccantini (2004: 21) defi ne de maneira clara o porquê da literatura infanto-juvenil ser um gênero tão oscilante, isto é, porque o gosto das crianças e jovens muda de período a período. Deve-se prestar mais atenção ao leitor, que pode descobrir no livro um grande instrumento de cidadania e educação:
o conceito de infância, que gera as condições de produção, muda de forma substancial; da mesma maneira, pode ser radicalmente diferente o modo como os textos são lidos, tanto por públicos primários ou secundários quanto por públicos de especialistas ou leigos. Tudo isso sugere um tipo de literatura defi nido mais em termos do leitor do que das intenções dos autores ou dos próprios textos. E também demonstra a relação estreita entre texto e leitor e, conseqüentemente, a peculiar honestidade e realismo requeridos pelo crítico de literatura infanto-juvenil. (Ceccantini 2004: 21).
Assim, pode-se dizer que a produção literária infanto-juvenil é algo que deve ser sempre renovado, visto que, como citado, o conceito de infância, e mesmo de juventude, mudam freqüentemente. A criança e o jovem de décadas atrás não têm o mesmo gosto que os de hoje em dia, e isso é comprovado por essa pesquisa. Deve-se ter em mente, sempre, que a literatura infanto-juvenil é um meio de se passarem valores importantes aos seus leitores, que estão em sua fase de formação moral e biológica. No entanto, não se pode esquecer do fato de que a leitura deve ser estimulada como um hábito prazeroso, longe de qualquer obrigação imposta pela escola e mesmo pelos pais.
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