A Capitolina 6, junho 2014 | Page 33

“ ocê já leu o livro? É mil vezes melhor”. Essa expressão poderia fazer sentido em uma conversa em frente à televisão, numa terça-feira, com o filme “Matilda” rolando na Sessão da Tarde. Mas não faz porque não é meu papel aqui defender um e criticar outro, já que filmes baseados em obras literárias são – e vou usar uma palavra de difícil compreensão –, vejam vocês, adaptados. Há semelhanças e diferenças, tomam 120 minutos do seu tempo com o filme, como pode ser uma leitura que dure horas, dias, semanas ou meses com o livro. Só que o filme, se você quiser saber sobre ele, alugue na locadora de sua cidade se ainda existir uma ou espere até passar na televisão (tem outros meios também, não vou falar etc.).

Sendo Roald Dahl o autor do livro, a leitura de “Matilda” tenderá a acontecer em poucas horas porque, muito além do incentivo à leitura, do amor que os pais deveriam dar aos filhos e da importância do professor e de uma escola de qualidades que o livro sugere – o que dá um tom educativo bastante comum no universo infanto-juvenil, - a história prende o leitor porque mostra a protagonista, Matilda, uma menina que, antes mesmo de ir à escola, já frequenta a biblioteca, lê Shakespeare, Orwell, Austen, e faz contas de cabeça que seriam difíceis até para alguém com boas noções em matemática fazer sem papel e lápis e que tenta aproveitar cada situação com muita diversão.

Todo esse talento, no entanto, não é valorizado por seu pai, sua mãe e seu irmão cinco anos mais velho que sequer sabem o que Matilda é capaz de fazer e, quando percebem por acaso que ela acertou uma multiplicação ou ouvem a garota falar sobre um autor de livros com intimidade, desacreditam e debocham dela. No tempo em que não estão em frente à TV, o pai pratica golpes vendendo carros velhos como se fossem novos, a mãe é viciada em bingo e o irmão é um projeto do pai. Essas dualidades presentes no livro, televisão e leitura, inteligência e estupidez, são tratadas com muito bom humor por Dahl, o que torna o livro feito para divertir o leitor, muito além da responsabilidade de apenas educar.

Quando Matilda consegue convencer o pai a matriculá-la em uma escola, a menina descobre na professora, senhorita Mel (no original, conhecida como senhorita Honey), uma cumplicidade até então nunca vivenciada, assim como sua amizade com os colegas de classe, o que nos mostra uma Matilda bondosa e companheira, capaz de enfrentar, para ajudar os amigos, a antagonista do livro, diretora Taurino (Senhora Trunchbull, no original), que atormenta diariamente a vida dos alunos para que eles ajam como robôs em sala de aula, além de impedir, em vão, que a professora Mel não mostre aos alunos o quanto eles são capazes de aprender.

Matilda mostra-nos que perfeição não existe. Ela pratica vingança contra os pais, contra a diretora da escola e se diverte com essas situações. Mas são esses pequenos atos que ela comete para provocá-los que dão humanidade à personagem, mostrando que dar o outro lado da face para não agir de modo indisciplinar vai tirar toda a graça em vê-la aplicar alguns “milagres” durante a história, inclusive, e que os ajudam a se livrar de situações embaraçosas com os malvados da história.

A leitura vale tanto a pena e as opções para conseguir o livro são enormes – bibliotecas infantis, bibliotecas universitárias, livrarias, lojas on-line – que, na próxima conversa sobre o livro ser muito melhor do que o filme, naquela quinta-feira chuvosa, você explica em detalhes as diferenças e semelhanças de cada um e deixa para o público votar no preferido.

V

Matilda

Mônica Albiero Costa

Resenhando Jr. 31

DAHL, Roald. ''Matilda''. Editora Martins Fontes. 2010. 4 edição. 364 páginas.