A Capitolina 6, junho 2014 | Page 23

Detratores ou Defensores 22

Apesar dos olhares desconfiados , tive a alegria e a sorte de encontrar uma orientadora tão apaixonada e curiosa quanto eu e que me ajudou a fazer as perguntas certas. E engana-se quem acha que estudar Harry Potter foi fácil, superficial, bobo. Tive que ir além dos limites das Letras Clássicas, molhar os pezinhos nos mares da Antropologia e respirar os ares da Filosofia da Linguagem. Alguém pode perguntar: qual é a necessidade de tudo isso para estudar um livrinho de cultura pop? E eu respondo: a beleza do objeto de estudo está nos olhos de quem pesquisa. O que importa mesmo é a pergunta e a maneira como se busca a resposta. Há muito para se pesquisar além do cânone – assim como há muitas novidades para se pesquisar com esse mesmo cânone. Há muito para conhecer além dos limites dos preconceitos sisudos da academia. Estudar os feitiços de Harry Potter me fez conhecer tantas teorias interessantíssimas de autores canônicos dos quais eu nunca tinha ouvido falar. Essa pesquisa me abriu portas e, principalmente, me abriu os olhos. Mostrou-me que existe, sim, espaço na universidade para pesquisar obras que interessam o público mais jovem que mal sabe da existência da pesquisa científica.

Pois, para mim, o melhor resultado foi despertar a curiosidade naqueles que, como eu, cresceram lendo a série Harry Potter. Quantos adolescentes para os quais tive o prazer de apresentar minha pesquisa ficaram animadíssimos para aprender latim! Quase sem querer, construí uma ponte entre dois universos muito distintos. Talvez, a partir desse interesse, daqui algum tempo eles estejam lendo Horácio, Catulo ou Virgílio e assim aumentem seu próprio cânone com obras estranhas a eles. Da mesma forma é possível aumentar o nosso cânone com obras estranhas à academia. E foi essa a minha principal conclusão, como educadora e pesquisadora: dar uma chance à literatura infanto-juvenil dentro da academia é construir pontes. Não podemos produzir conhecimento apenas para nós mesmos, fechados em salas de aula, departamentos ou congressos. O conhecimento deve sempre ultrapassar os limites da universidade e se tornar acessível àqueles que, no futuro, poderão construir novas pontes com sua curiosidade.

Mônica Venturini

Mônica Venturini é formada em Letras e uma entusiasta de todas as artes. Gosta de livros tanto quanto gosta de pizza. Seu sonho é criar uma biblioteca-pizzaria (e morar lá dentro). E acredita que, mesmo depois de ter passado dos 11 anos há muito tempo, sua carta de Hogwarts ainda vai chegar.