A Capitolina 4, abril 2014 | Page 21

por Rodrigo Zafra Toffolo

Ninguém mais falou. Desapareceu por entre as árvores sozinho, com o

silêncio às suas costas.

Não sabia se a escuridão se devia apenas pela floresta ou se havia cegado

novamente. O medo voltara junto com os sons medonhos. Sentia-se fraco

novamente. Caiu de joelhos e percebeu a terra vibrar. Era o Exército do Rei, que

marchava com tochas acesas em sua direção. Cercaram-no, e pode ouvir a voz do Mensageiro ao pé do ouvido:

De nada adianta tua rendição. A maldição já foi por ti lançada – A Terra dos Sonhos será conquistada.

Mal terminou a frase, o Mensageiro foi agarrado por uma enorme águia e mantido no ar, gritando. Os homens de frente do Exército se transformaram em escaravelhos. A jovem toupeira postou-se ao lado do garoto, contando-lhe que a reunião prosseguiu, e todos se convenceram de que apontar-lhe como culpado não era certo, e decidiram ajudar-lhe da forma que podiam. Então narrava-lhe, toda entusiasmada, as peripécias:

As corujas indicam os caminhos, enquanto as águias dificultam que os militares peguem suas armas. Nosso pessoal está jogando sobre o Exército uma pequena bolinha com um líquido mágico, que os transformam em insetos dos mais variados tipos. Um monte de homens está correndo de volta para o Reino, com medo, mas, veja só, até os abutres estão se aproveitando da situação.

Com a derrocada de seu Exército, o Rei blasfemou. O Mensageiro, que a tudo acompanhou do alto e fora trazido ao Reino pela enorme águia, tratou de noticiar à Majestade como a luta fora perdida. Por fim, informou-lhe que o garoto o aguardava à porta do Castelo para uma audiência. Para a Majestade, tal atitude era uma afronta.

A grande praça que ficava à frente do Castelo estava lotada entre súditos daquele Reino e habitantes da Terra dos Sonhos, que vieram em missão de paz. Ao vislumbrar a possibilidade de se impor, o Rei bradou tudo que queria, sem parar, até se cansar. O garoto não ousou tecer argumentos – contra palavras de tão pouca expressão, nada necessitava dizer.

Apenas pousou a mão sobre uma das pedras que formava a base do Castelo. Devagar, a construção começou a ruir. Indignado, o Rei voltou para dentro, dizendo que iria parar o desabamento. Em pouco tempo, a imponente fortificação virou um raquítico amontoado de pedras e pó.

Ao se voltar para a multidão, o garoto já havia se tornado homem, e era aplau-

dido em uníssono. Uma festa então se iniciou, e em torno do antigo Reino as

árvores deixavam transpassar os raios de sol, fazendo surgir flores nunca

vistas e a necessidade de se mudar o nome da Floresta. Ao longe, na estra-

dinha de terra, o cego que via com o coração e

sua fiel escudeira seguiam felizes rumo à jornada

de mudar o mundo.