Colcha de histórias
Por Elaine Chiacherini
artigo aborda pontos importantes para quem se interessa com formação humana ou trabalha com educação.
A leitura deste artigo me levou a uma viagem na minha própria história. História que compartilho como forma de dizer que acredito nas histórias como ferramenta de encantamento, fio mágico que cria laços e ajuda
Caminho por esta vida há pouco mais de quatro décadas. Fui e sou protagonista de histórias reais e tantas outras sonhadas.
Nascida numa pequena cidade do interior do interior de São Paulo, sem muitos brinquedos comprados, mas com muita liberdade para explorar os espaços e criar meus próprios brinquedos a partir das sucatas que encontrava.
As histórias que ouvia eram contadas por meus pais e avós, normalmente causos de gente simples dos sítios, histórias de família e as dos disquinhos coloridos que ouvia na minha vizinha.
Até que um dia, meu pai comprou várias caixas de enciclopédias que eram vendidas de porta em porta, e assim uma coleção de três livros de contos infantis foi parar em minhas mãos. Lembro-me bem das ilustrações e até do cheiro dos livros de capa amarela.
Cresci, fiz as coisas que a sociedade esperava das mulheres da minha idade e não vislumbrava horizontes além desse universo.
Entretanto, existe algo na minha essência que me permitiu descobrir dentro de mim a capacidade de buscar, acreditar, sonhar e de realizar muito mais do que poderia ter imaginado.
No decorrer desse percurso, minhas leituras se multiplicaram e diversificaram, principalmente as que dizem respeito à literatura e que embasam com a teoria o que experimentei com a vida.
No limiar dos meus quarenta anos colei grau em Pedagogia, passei a lecionar na Educação Infantil e descobri em mim a poesia de minha avó.
Com esses alinhavos fui costurando vivências e aprendências e desta forma passei a contar histórias... sozinha, no Era uma vez Balaio de Três e onde quer que pudesse extravasar o universo que transborda da alma do contador.
Foi por isso que iniciei essa nossa conversa resgatando retalhos de memórias e com minha história real confirmando a importância e a força da literatura infantil na formação do indivíduo.
Hoje, com essa consciência do poder das histórias, no meu trabalho em sala de aula e como contadora busco emprestar a minha voz e meu corpo ao texto sem sufocar o ouvinte. Para que cada um possa fazer sua leitura, juntando os seus retalhos para alinhavar a construção de sua própria história.
O trabalho do professor contador de histórias é algo desafiador, uma vez que ele é um instrumento de transmissão das memórias universais nas quais estão contidas experiências de outros tempos e outras realidades, mas que falam de sentimentos e de necessidades que todo ser humano tem, em qualquer tempo ou lugar.
Penso que por essa razão, uma questão importante abordada no artigo diz respeito ao espaço que os contos tem no contexto escolar, não aquele olhar técnico, com vistas à formação pedagógica, mas aquele que dá espaço para o exercício da imaginação.
Os contadores costumam convidar o ouvinte a viajar nas asas das histórias e isso, de fato, acontece a partir do momento em que ele estiver em estado de encantamento.
Creio que o trabalho de contadores, como encantadores de palavras possibilita o exercício da imaginação e dessa forma desempenha uma função educativa, uma vez que as imagens internas, nossas bases para construção de novos conhecimentos são acionadas e nessas conexões entre o universo interno do ser humano e os estímulos contidos nos contos é que surgem possibilidades de transformações e crescimento.
Portanto, o profissional que transita por esse universo mágico, precisa ter a consciência da dimensão do seu trabalho na formação humana e da importância dos contos nesse processo. Por meio do “maravilhoso”, do jogo do faz de conta acontece o diálogo entre o real e o imaginário e dessa forma se abrem espaços para construção do conhecimento de si e do mundo.
No meu percurso como educadora e contadora de histórias é comum ouvir comentários sobre a criatividade e forma de cativar os ouvintes na hora do conto. Refletindo sobre isso retomo o início da minha história e arremato os meus bordados com a linha da gratidão à vida pelas histórias e poemas que ouvi na infância e que ampliaram meus horizontes.
Colcha de retalhos no chão, um livro nas mãos ou uma história na cabeça... que possamos, educadores contadores de histórias tocar a alma de cada criança ou adulto que nos ouve, que a magia os faça descobrir o universo que existe dentro de cada um de nós.
O
detratores ou defensores
13 A Capitolina