A Capitolina 3, março 2014 | Page 11

Escrituras 10

dificuldade; é ainda mais difícil ir mais a fundo e dizer,

Para conseguir realizar essa parte, da obrigação do leitor, é necessário tal imaginação, intuição, e aprender que é difícil conceber uma mente qualquer suficientemente com qualidade e habilidade; impossível para o mais autoconfiante achar mais do que as sementes de tais poderes em si mesmo. Poderia ser sábio, então, ceder essa parte da leitura e permitir que os críticos, as autoridades adornadas com peles e mantos da biblioteca, decidam a questão do valor absoluto do livro para nós? Ainda, quão impossível! Nós podemos alargar o valor da simpatia; podemos tentar afundar nossa própria identidade ao lermos. Mas sabemos que não podemos simpatizar inteiramente ou nos imergir inteiramente; sempre há um demônio em nós que sussurra, “Eu odeio, eu amo,” e não podemos silenciá-lo. De fato, é precisamente por que odiamos e amamos que nossa relação com poetas e novelistas é tão íntima que achamos a presença de outra pessoa intolerável. E mesmo se os resultados forem abomináveis e nossos julgamentos estejam errados, ainda sim é nosso gosto, o nervo da sensação que envia choques através de nós, é o nosso chefe iluminador; nós aprendemos através do sentimento; não podemos suprimir nossa própria idiossincrasia sem empobrecê-la. Mas na medida em que o tempo passa talvez possamos treinar nosso gosto; talvez possamos submetê-lo a certo controle. Quando ele tiver se alimentado abundante e gulosamente de livros de todos os tipos – poesia, ficção, história, biografia – e tiver parado de ler e olhado por longos espaços sobre a variedade, a incongruência do mundo dos vivos, nós devemos achar que ele está mudando um pouquinho; ele não é tão insaciável, ele é mais refletivo. Isto irá começar a trazer-nos não meros julgamentos de livros particulares, mas irá nos dizer que existe uma qualidade comum em certos livros. Ouça, isto lhe dirá, o que devemos nós chamar isto? E isto vai ler-nos talvez o Rei Lear e talvez Agamemnon a fim de nos trazer essa qualidade comum. Dessa forma, com o nosso gosto nos guiando, devemos nos aventurar além do livro particular na busca de qualidades que unem livros em grupos; nós devemos dar-lhes nomes e, então, enquadrar uma regra que traga ordem nas nossas percepções. Devemos ganhar uma avançada e profunda satisfação dessa discriminação. Mas como uma regra só vive quando é perpetuamente quebrada pelo contato com os próprios livros – nada é mais fácil e mais degradante do que criar regras que existem fora de contato com os fatos, num vácuo – agora pelo menos, em prol de firmamo-nos nessa tentativa difícil, poderá ser bom se virar aos mui raros escritores que são capazes de esclarecer-nos sobre a literatura como uma arte. Coleridge e Dryden e Johnson, no seu criticismo considerado, os próprios poetas e novelistas em seus dizeres irrefletidos, são freqüentemente surpreendentemente relevantes; eles iluminam e solidificam as idéias vagas que vem tropeçando pela neblina das profundezas das nossas mentes. Mas eles só podem nos ajudar se nós viermos até eles cheios de dúvidas e sugestões ganhas honestamente no curso de nossas próprias leituras. Eles nada podem fazer por nós se nos reunirmos sobre sua autoridade e deitarmos como ovelhas nas sombras do cercado. Nós só podemos entender suas regras quando entram em conflito com as nossas próprias e as derrotam.

Se assim for, se para ler um livro como deve ser lido se pede as mais raras qualidades da imaginação, intuição, e julgamento, você poderá talvez concluir que a literatura é uma arte muito complexa e que é muito improvável que sejamos capazes, mesmo depois de uma vida inteira de leituras, a fazer qualquer contribuição valiosa ao seu criticismo. Nós devemos permanecer leitores; não vestiremos a distante glória que pertence aqueles raros seres que são também críticos. Mas ainda temos nossas responsabilidades como leitores e até nossa importância. Os padrões que construímos e os julgamentos que temos passam e infiltram o ar e se tornam parte da atmosfera que os escritores respiram como suas obras. Uma influência é criada e recai sobre eles, mesmo que isso nunca encontre um caminho até a publicação. E essa influência, se é bem instruída, vigorosa e individual e sincera, poderá ser de grande valor agora quando o criticismo está necessariamente pendente; quando livros passam por análises como a procissão de animais numa galeria de caça, e o crítico tem somente um segundo no qual carregar e mirar e atirar e for perdoado se errar trocando coelhos por tigres, águias por galinhas de porta de celeiro, ou errar tudo e desperdiçar seu tiro sobre alguma pacífica leitoa pastando em um campo distante. Se atrás do errático tiroteio da mídia o autor sentir que existe outro tipo de criticismo, a opinião das pessoas que lêem pelo amor da leitura, vagarosamente e de maneira não profissional, e julgando com grande simpatia, mas com grande severidade, não iria isso aumentar a qualidade da sua obra? E se pelos nossos meios os livros fossem ficando mais sólidos, ricos, e com maior variedade, isto seria um bom fim que valeria alcançar.

“Não

somente esse livro é desse tipo, mas ele é desse valor; aqui ele falha; aqui ele acerta; isto é ruim; aquilo

é bom.