Olha para a foto no porta-retrato – lembrança do dia que o pequeno chegou. Sorri.
Um breve afago, e só.
O telefone toca – alvoroço na voz, movimentos desencontrados.
Pintura no rosto, escova nos cabelos, escolha do vestido mais adequado...
Um olhar a acompanha, triste.
Passa pelos brinquedos espalhados sem notar.
A campainha toca. O homem entra, imperioso.
Um sonoro protesto, logo contido por palavras que nada dizem.
A luz é desligada, a porta fechada. Fora, o mundo ganha vida; dentro, perde o sentido.
Ao pé da entrada, a espera – resoluto.
A porta bate, os passos fortes e rápidos, o choro que a consome...
O olhar a acompanha, sereno.
A mão se estende; as lambidas acariciam.
Rodrigo Zafra
Pelo Sabor do Gesto
mini conto
15 A Capitolina