A Capitolina 2, fevereiro 2014 | Page 10

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O conjunto dessas observações faz surgir a diferença essencial entre os processos de comunicação descobertos entre as abelhas e a nossa linguagem. Essa diferença resume-se no termo que nos parece o mais apropriado para definir o modo de comunicação empregado pelas abelhas; Não é uma linguagem, é um código de sinais. Todos os caracteres resultam disso: a fixidez do conteúdo. a invariabilidade da mensagem, a referência a uma única situação, a natureza indecomponível do enunciado, a sua transmissão unilateral. É no entanto significativo o fato de que esse código, única forma de "linguagem" que se pôde até hoje descobrir entre os animais, seja próprio de insetos que vivem em sociedade. É também a sociedade que é a condição da linguagem. Esclarecer indiretamente as condições da linguagem humana e do simbolismo que supõe não é o menor interesse das descobertas de K. von ·Frisch - além das revelações que nos trazem sobre o mundo dos insetos. É possível que o progresso das pesquisas nos faça penetrar mais fundo na compreensão dos impulsos e das modalidades desse tipo de comunicação, mas o haver estabelecido que ele existe e qual é e como funciona já significa que veremos melhor onde começa a linguagem e como se delimita o homem.

BENVENISTE, Emile. "Problemas de Linguistica Geral I". Editora Pontes. 3ª edição. 1991.

Tradução de Maria da Gloria Novak e Maria Luiza Neri