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Outubro 2022 | Cidade Nova | 11
como o bem comum , a solidariedade , o respeito ao outro , a cultura de paz , a justiça social , a dignidade humana . Isso nos ajuda a não permanecermos em uma posição passiva ante as notícias .
Além disso , considerando que somos seres sociais e relacionais , é lógico que esse exercício não deveria ser feito apenas de forma individual ( ainda que isso já seja um grande passo ), mas realizado com outras pessoas , especialmente com aquelas que tenham posições políticas diversas .
Para ajudar-nos nesse empreendimento , uma dica que julgamos pertinente é convidar o leitor a dar atenção ao jornalismo analítico e interpretativo que , a propósito , tem crescido muito na internet . Muitos jornalistas , com o seu olhar clínico e respeitada bagagem profissional na cobertura dos fatos políticos , realizam um trabalho de excelência nesse sentido , indo além do anúncio daquilo que é meramente factual . Eles oferecem uma leitura aprofundada desses fatos , conectando-os com lógica , apresentando suas incongruências , discutindo posicionamentos e assim por diante .
Feito esse movimento inicial e buscando manter um afastamento temporário das ideias e do governo aos quais estamos alinhados ou apoiamos , possivelmente conseguiremos criar as condições necessárias ( um ambiente mais racional e , portanto , menos emocional ) para exercitar a avaliação sobre os canais de informação política que utilizamos .
Para que esse exercício possa ser efetivo , além desse ambiente favorável , é necessário considerar algumas questões que precisam permear essa avaliação . Inicialmente , é preciso identificar , o quanto possível , as pessoas que movimentam na linha de frente esses canais e quem são os seus patrocinadores . Ademais , é importante observar se a linha editorial se aproxima mais da linha conservadora , progressista , radical , socialista , liberal etc . Caso não tenha clareza sobre o significado político dessas palavras , reserve um tempo para pesquisar e conhecê-las . Por fim , é fundamental verificar a proximidade de cada canal com esse ou aquele governo , com esse ou aquele partido , se apoia ou se faz oposição ao governo .
Ao fim desse exercício , se conseguimos mapear essas informações sobre os canais de comunicação ( empresas , grupos ou pessoas ) nos quais buscamos informações políticas , temos a possibilidade de identificar e avaliar se o conhecimento político de que dispomos está ancorado em informações de qualidade ou não . E ainda : poderemos perceber que , assim como o outro , também nós estamos alinhados a determinada linha editorial ou corrente de ideias e valores . Se a maioria dos canais que seguimos ou se todos eles são somente conservadores ou progressistas , liberais ou socialistas , somente a favor ou contra determinado governo , não é difícil concluir que a informação que aceitamos e compartilhamos , por mais que seja de qualidade , possui um viés de ideias e valores fortemente definido . Assim sendo , devemos reconhecer que essas informações ou as críticas podem ser limitadas a uma perspectiva .
No espaço político , para se alcançar uma informação ponderada e de qualidade , é fundamental , tendo presente o horizonte de mundo que se quer analisar , que essa informação seja efetivamente mesclada por uma diversidade de ideias e de canais .
Por fim , não é de hoje que pesquisas em comunicação demonstram que pessoas com engajamento político – ( não necessariamente em partidos , mas em associações de moradores e profissionais , pastorais sociais e outros grupos com atenção a políticas públicas , entre outras organizações ) – costumam fazer uma leitura mais refinada dos fatos políticos – logicamente porque contam com a referência da prática , da experiência e da proximidade com as ações políticas presentes ou não nas vidas delas e na das suas comunidades , e não são meros consumidores de mídia . Isso , aliás , independe da formação acadêmica do cidadão . A atuação política ( no sentido amplo ) – dá a ele perspectivas mais amplas e lúcidas sobre esse tipo de tema em relação a quem se limita a consumir informações pela mídia convencional ou pelas redes sociais .
Ao fim dessa reflexão , convidamos os leitores de Cidade Nova a reexaminarem suas fontes de informação e fazerem esse percurso reflexivo sobre a relação que possuem com elas . Depois , se quiserem e puderem , compartilhem conosco a que conclusões chegaram . Quem sabe possamos ter novas perspectivas que nos ajudem a aprofundar a reflexão aqui iniciada .
1 ) Flávio Dal Pozzo é presidente do Movimento Político pela Unidade ( MPpU ) e Luís Henrique Marques é editor-chefe da revista Cidade Nova . Esse artigo contou com contribuições do jornalista José Antônio Faro .

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