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14 | Cidade Nova | Junho 2022
Sociedade | Gustavo Monteiro | revista @ cidadenova . org . br
Valores e desafios da convivência social
Arquivo pessoal

A informação salva vidas

TECNOLOGIA Plataforma de dados da Universidade Federal de Juiz de Fora se consolida como ferramenta pública de conscientização e prevenção durante a pandemia
O PROFESSOR de estatística Marcel Vieira estava na praia , em janeiro de 2020 , quando ouviu as primeiras notícias sobre o coronavírus na China . Ele , que estava acostumado a lecionar estatística para turmas de medicina e biologia , comentou com a esposa : “ tem uma probabilidade enorme de esse vírus chegar por aqui e disso ser uma coisa mundial ”. Sob os protestos da mulher , que o considerou pessimista demais , ele disse : “ vamos curtir a praia , porque não sabemos quando vamos voltar aqui de novo ”. No dia 11 de março , a Organização Mundial da Saúde ( OMS ) considerou oficialmente a situação como uma “ pandemia ”. Os dias seguintes foram de muita pesquisa e leitura , e no dia 29 de março de 2020 , Marcel e Pedro Henrique Pacheco , seu aluno na Universidade Federal de Juiz de Fora ( UFJF ), lançaram , de forma voluntária , uma plataforma digital de dados sobre o coronavírus . Há dois anos no ar , a plataforma já conta com mais de 6 mil acessos regulares , de 37 países diferentes . De acordo com a equipe , só no Brasil , os acessos vêm de 374 municípios .
Os dados transmitidos pela plataforma vão desde os números de casos e de óbitos à taxa de transmissão do vírus a nível local em todos os municípios do Brasil . “ Além disso , a gente calcula várias taxas : de mortalidade , letalidade , taxa de crescimento e decrescimento , proporções por sexo e faixa etária , número de leitos hospitalares dedicados à Covid , quantidade de aparelhos de saúde disponíveis para a população e quantos estão sendo usados ”, explica o professor Marcel . A plataforma coletou ainda os dados fornecidos pelos aparelhos celulares para analisar se a taxa de transmissão era maior quando as pessoas se movimentavam mais dentro das cidades no início da pandemia .
Motivação e gratuidade
Hoje a equipe conta com dois bolsistas do curso de estatística , três professores e uma jornalista . Tanto os professores quanto a jornalista Mônica Prado , de Brasília , trabalham de forma voluntária . “ São em média 15h de trabalho semanais ”, informa ela . “ Eu gosto ! Tem um nível prestação de serviço público muito grande ! Quando penso na comunicação voltada para a prevenção de saúde , vejo a plataforma como um passo gigantesco , ela fornece uma informação verdadeira , verificada e verificável ”, divide Prado , que está na equipe desde 2020 .
Vieira conta que a ideia inicial de criar a plataforma nasceu de um raciocínio muito prático : “ Eu sou servidor público . Quem paga o meu salário é a população , parte do imposto que ela paga vem para minha casa , para que eu , minha esposa e meus filhos possamos comer . Eu levo isso muito a sério ! Toda a minha formação depois que eu entrei na universidade foi pública . Me formei na Universidade Federal de Juiz de Fora , onde ensino hoje em dia , de forma gratuita ; quem pagou para eu estudar foi a população . Fiz um mestrado caríssimo na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro ( PUC-Rio ) financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

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