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Janeiro 2021 | Cidade Nova | 37
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vendo o encontro real e profundo com a dor da humanidade que sofre os efeitos da pobreza .
O “ outro ” e o “ pobre ” devem ser termos substituídos por um “ nós ”, que reconstrói narrativas e políticas , que desafia , reinventa , incide , com felicidade e doação , abandonando as perplexidades e polarizações paralisantes , focado em ações possíveis e reais . Bergoglio sabe a quem fala e alerta : é necessário abandonar a distração provocada pela hostilização , pela desqualificação do diferente e pela ideologização .
É preciso trabalhar a partir da metodologia do encontro : compartilhamento de visões , convicções e projetos , perspectivas poliédricas , a partir de um olhar fixo no que nos é comum : o desejo de mudança do sistema econômico , fundamentado na concepção de desenvolvimento humano integral , construindo soluções reais e possíveis .
Para isso , é preciso vocação , para incidir concretamente na sociedade , com inteligência , empenho e convicção , construindo novas histórias e convicções , a partir da consciência de que somos todos responsáveis . Sujando as mãos , experimentando , concretizando , para chegar ao núcleo e ao coração do espaço no qual os temas e os paradigmas são elaborados e decididos . Palavras dele : “ Ou nos envolvemos , ou a história passará por cima de nós ”.
É preciso investir em cultura para criar as condições de mudança de estilos de vida e das estruturas consolidadas de poder . A ausência de cultura gera fragmentação na análise e no diagnóstico , que acaba por bloquear todas as soluções possíveis . A metodologia do encontro deve ser a principal tecnologia para essa construção : “ iniciar processos — traçar caminhos , ampliar horizontes , criar pertenças ”.
A fome não é causada pela falta de recursos materiais , mas pela escassez de recursos sociais de natureza institucional . As políticas redistributivas e o terceiro setor são fundamentais , mas incapazes de alterarem sozinhos as estruturas que continuam a gerar a concentração e a escassez de recursos sociais .
É preciso atuar em uma comunhão de esforços , focada em incidir sobre as estruturas que concentram poder e renda , redesenhando modelos econômicos com as pessoas vulnerabilizadas protagonizando esses processos : “ Se não o fizerdes , nada fareis ”. Isso implica uma transformação das nossas prioridades e do lugar do outro nas nossas políticas e na ordem social .
Finalmente , implica um pacto generoso entre atores de mercado , academia , governos e sociedade , conectados com o sofrimento concreto do povo , para além de batalhas ideológicas , construindo condições de ousar e fomentar experiências de desenvolvimento , sustentabilidade e crescimento em que as pessoas , e especialmente os excluídos ( também a irmã terra ), deixem de ser uma presença meramente nominal para se tornarem protagonistas das suas vidas e do tecido social .

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