3ª Edição Caras do Soyo 3ª Edição Caras do Soyo | Page 24
NUM DOS BANCOS DA PRAIA DOS POBRES
NLANDO TONA
N
uma tarde semelhante a
tantas outras de domingo
em que os pés regidos pela regra
dos desencontros seguindo um
eu não perdido, porém, achado
numa terra natal que se vê onde
Pés monologam entre si - doando
passadas eufóricos, abanando os
pingos de área para abraçar out-
ros pingos naquele lar imutável
e sem propósito. Como um an-
darilho seguindo luzes – vaga
lumes (10) iluminados no in-
stantâneo devaneio. Apreciar o
pôr-do-sol esticado de pernas
desentupidas. Permitindo o pin-
go d´água nem doce-ou-salgada,
entrando e saindo para lá do além
onde se vê um imponente des-
abrochar da PRAIA-DOS-PO-
BRES, encaixada no coração da
besta: o dragão de três corações.
Cuspindo
ininterruptamente
a cólera das suas entranhas no
céu. Descolorido fica. Os tons
azuis do céu são engolidos pela
ardente chama da cor do fogo.
A história registou-lhe: PRAIA
DOS POBRES. - Que se home-
nageiem os homens, aquelas que
aprenderam que na graça con-
vêm compreender o prefixo 10
para que o sentido se faça. Ex-
travagância de pobre é ser acol-
hedor, talvez seja por isso que
as andanças procuram sempre
em surdina o seu leito materno.
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A
s ngalas cobertas no calor da
areia falam para os ouvidos dos
pés o quanto à amável higiene
afasta-se de si - mania de admin-
istração pública. Talvez a higiene
seja um critério de valor não
aplicável aqui. Limpeza simboli-
za importância e o luxo africano
combina melhor com o lixo – o
boda de ontem que lhe conte, a
poeira no pincho é picante e, a igre-
ja exige confortavelmente o gozo,
a masturbação cristã da santíssi-
ma trindade: em nome do lixo,
picho e luxo e a pátria diz: amém.
...
Seu corpo em forma de espiral
natural, ousadamente implan-
tado entre o caos e ordem, un-
indo de uma forma apaixonante
o doce caudal do vasto e miste-
rioso rio Zaire e a grandeza es-
plêndida do sal no Oceano At-
lântico. Mescla indelével. Os pés
vislumbram a beleza piramidal
da costa, à sua entrada prolifi-
cando uma vista ao longe: um
horizonte transcendental, porta
para mais de 160 Ilhas esperan-
do avidamente por turistas reais.
Vê-se o Padrão e suas mand-
ingas, o berço da penetração.
O acolher do colono perdido, o
manancial da nação angolana.
Foi aqui onde tudo começou.
S
entado na sua areia escura
delicie-se a sua compan-
hia fotografando emoções
miúdas, registando circunstân-
cia, vidas proporcionadas, miú-
dos nadando no seu ventre mar
enquanto sua água se banha dos
que chegam perto para recuar de-
pois, recuar e perder-se em seus
abraços, molhados ou secos, sen-
tados regalando a ultima cerve-
ja, caminhado na pagina de um
livro, petiscando as mabangas.
Ou ainda, ser mais velho e brin-
car às escondidas. Amantes en-
feitiçados - nkixi – de um sossego
lugar de segredos ocasionais.
Sua extravagância é ser PRAIA
e POBRE ACOLHE TUDO.
S
ua leveza perde-se no es-
paço-tempo, onde nuvens
são almofadas de medo, pois
a máquina exala fumaças sem
parar que ofuscam o sol. Crian-
do um contraste entre o desejado
progresso e o bem-estar ambien-
tal – semblante descrente - futuro
decadente. Ganância desenfreada
é bomba eminente. Noites claras,
iluminadas pelas salivas do dragão
– o símbolo do progresso na polu-
ição é retrocesso. Biodiversidade
ameaçada, água contaminada, ra-
diação implantada - o desenvolvi-
mento esconder-se-á no momen-
to em que a natureza protestar.
...
Um dia, numa tarde semelhante
a tantas outras como esta, serás
vista como um pedaço de sau-
dade que ficou no presente. Uma
onda de silêncio falante. A ân-
sia pelo desenvolvimento rápi-
do transformar-te-á em veneno.
Uma descrente companheira,
céu enfumado – estorva. Por
defeito, contínuas sendo a diva
dos desfavorecidos, santa água