1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 97

no mundo agrário, hoje liberados em grande parte do estatuto de dependência pessoal ao senhoriato rural. Cessam, aí, as semelhanças. O tipo de modernização que vinga em 1937 supõe uma atitude mais complexa do ator que evita isolar a economia da política e da organização social, já que seu estilo é europeu, durkheimiano, sistêmico. Precisamente o que se buscou com a introdução da fórmula política do corporativismo foi imprimir um andamento articulado e solidário às esferas da economia, da política e da organização social. Por outro lado, a cultura política do iberismo predomina em suas elites. Oliveira Vianna é um exemplo notório, para não se falar do próprio Vargas, e daí suas predileções pelas concepções organicistas e comunitaristas da ordem nacional, e suas reservas quanto ao individualismo e ao mundo livre dos interesses. Já 1964 é de inspiração americana em geral. Para suas elites, o recurso à ordem burocrático-corporativa é meramente instrumental, como é inspirada na Sociologia americana a sua teoria de modernização social, ao contrário das referências europeias, sobretudo italianas, dos homens de 1937. Nessa espécie de marxismo vulgar às avessas, tem-se a crença de que mudanças econômicas em sentido “modernizante”, isto é, que criam o indivíduo apetitivo e valores de livre mercado, induzem a um desenvolvimento político e social homólogos à sua natureza. Introduziu-se, assim, uma abissal assimetria entre economia, política e organização social, as duas últimas congeladas pelo autoritarismo enquanto a primeira dispara num movimento em flecha. De outra parte, foi essa a lógica que separou drasticamente a esfera do público da esfera do privado, ensejando o aparecimento de uma cultura política em que o indivíduo via como estranho tudo que não fosse o seu interesse particular imediato. Mais do que os FW67G&W2V6