1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 85
“Ascensão e declínio do processo de substituição das importações”,
publicado em 1964 (uma “ilustração das teorizações sobre os
bloqueios estruturais, desenvolvidas por outros autores nos anos
seguintes”, cf. PÉCAUT, 1990, p. 222). Pécaut observa que Furtado
se volta não só para os “entraves” ao desenvolvimento brasileiro,
sobretudo a perpetuação da solidariedade entre industriais e
proprietários das terras (“contrariamente ao tipo ‘clássico’ de
desenvolvimento capitalista”), e a fraqueza do movimento sindical
por causa dos salários operários “relativamente elevados” (Furtado,
citado de texto de 1967; as expressões entre aspas são suas). O
economista menciona também o “espectro da estagnação”: “mesmo
as decisões racionais, explica Pécaut, não permitem escapar das
distorções estruturais que acompanham a industrialização”
(PÉCAULT, op. cit., p. 223) ; “é nesse sentido que se pode atribuir
ao problema da estagnação latino-americana um caráter estrutural” (cf. Furtado em Dependência e estagnação na América
Latina: uma abordagem estruturalista, de 1968, originariamente
citado por Francisco de Oliveira no seu livro Celso Furtado, de
1983; cf. PÉCAULT, op. cit., p. 223).
A esse diagnóstico dos “bloqueios estruturais”, escreve o
autor de Os intelectuais e a política no Brasil, acrescenta-se a
condenação das orientações econômicas dos novos governos “que
levam direto à catástrofe”. Pécaut registra que, em artigo de 1967,
Furtado diz que essas orientações visavam a “ruralização do
Brasil”, buscando eliminar “a atração exercida pelas cidades, reduzindo os investimentos públicos e privados nas regiões urbanas
[de modo que] a economia tenderia a estender-se, horizontalmente, isto é, com modificações mínimas nas formas de produção”
(Furtado, citado de outro artigo de 1967). Caso esse projeto se
realizasse, avalia Furtado, “o Brasil talvez alcançasse ilusória paz
social”, mas ficaria afastado da “revolução tecnológica”, e os “enormes recursos naturais do país, em especial as terras abundantes,
teriam sido utilizados contra o seu próprio desenvolvimento”
(Expressões de Furtado; PÉCAULT, op. cit., p. 223).
O conjuntural desaparece por trás do ‘estrutural’
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