1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 80

Nessa época, o cenário internacional era muito distinto do atual. A Guerra Fria entre os países socialistas, tendo à frente a União Soviética e os principais países capitalistas, liderados pelos Estados Unidos, tendia a realçar as cores fortes de qualquer movimento político no então chamado Terceiro Mundo, onde o Brasil era situado. A tese, cara aos EUA, de que o socialismo era um fenômeno típico da Europa do Leste ou do continente asiático havia sido desmentida por aquilo que ocorria em Cuba, o que aumentava a paranoia anticomunista, em certos círculos da sociedade e do Estado norte-americano. O governo Jango não fazia mais que dar continuidade à política de abertura para os países socialistas, iniciada por governos anteriores, privilegiando interesses comerciais; tal abertura foi suficiente para que os setores conservadores da elite brasileira antes mencionados abrissem uma violenta campanha tachando-o de filocomunista, construindo assim pontes com setores do governo e da burguesia norte-americana que tinham seus interesses comerciais contrariados. Cometeram-se excessos na luta pelas reformas? Claro. É impossível convidar pessoas famintas para sentar à mesa para comer e querer que elas se comportem conforme a etiqueta. A grande mídia ampliou tais excessos e o estímulo aos mesmos por parte de setores da esquerda e de algumas personalidades do governo. Os exemplos mais claros disso eram a palavra de ordem de “reforma agrária na lei ou na marra” e o apoio a algumas das manifestações de sargentos, soldados e marinheiros que feriam os regulamentos militares. Esses e outros fatos permitiram à direita retomar a bandeira da legalidade democrática, assustaram as camadas médias e provocaram seu progressivo deslocamento para uma aliança com os conservadores. Diante desse quadro, essas forças, que haviam sido isoladas e derrotadas em 1961, decidem bloquear as iniciativas progressistas no Congresso e desestabilizar o governo Jango. Não porque ele se propusesse a acabar com o capitalismo, ao contrário, propunha-se modernizá-lo. É que essa elite não admitia perder um centíme78 1964 – As armas da política e a ilusão armada