1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 70
ção da indústria etc. foram praticamente liquidados ou reduzidos a
um mínimo. O movimento de resistência ainda busca, neste
momento, novas formas e caminhos para se expressar, para criar,
enfim, os seus novos focos de irradiação.
Cabe aqui, finalmente, uma observação especial sobre a situação das esquerdas dentro da oposição. Para essas forças, a pior
cons equência da inflexão do movimento de massas foi o rápido
incremento das posições radicais. Não foram poucos os grupos
revolucionários pequeno-burgueses que não souberam recuar ante
o avanço da contrarrevolução, passando do radicalismo verbal às
posições de desespero e aventura. Iniciaram essas correntes uma
série de atos que se explicam, antes de tudo, pela sua incapacidade
para enfrentar a tarefa de reestruturar o movimento de massas nas
condições difíceis criadas pelo avanço da repressão fascista. Os
assaltos a bancos, os golpes de mão e outras formas de ação postas
em prática por pequenos grupos desligados das massas, enfim, o
emprego indiscriminado da violência, embora compondo objetivamente o quadro da oposição, não deixam, apesar de seu suposto
caráter revolucionário, de desservir à resistência e de dificultar a
organização da frente única de massas contra a ditadura. Em uma
palavra, enfraquecem a oposição.
O trabalho paciente, cauteloso e demorado de organização
da classe operária e do povo, de sua preparação para enfrentar
uma luta prolongada, se assim for preciso, que constitui para o
nosso Partido uma alta virtude revolucionária, não passa, para
aqueles grupos, de um pecado mortal oportunista.
É esse o quadro da oposição. Quadro que explica porque a
ditadura, apesar de suas fraturas e instabilidade, ainda encontra
meios e formas para avançar no processo de fascistização. Quadro
que se modificará, com maior ou menor ritmo, a partir do momento
em que o processo político, permitindo uma reflexão mais profunda
da oposição sobre sua experiência, indique-lhe a maneira de usar
sua imensa potencialidade para organizar os combates e a batalha
final contra a ditadura.
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1964 – As armas da política e a ilusão armada