1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 65

a reconhecer, eram praticamente as mesmas de 1910, por ocasião da Revolta da Chibata: poder sair às ruas sem uniforme, casar-se, poder ser eleitos e outras deste teor, que foram dadas como altamente subversivas e revolucionárias. O que assustava os donos do poder, naquela época como sempre, era o crescimento do movimento popular, das reivindicações operárias, do movimento camponês que começava a se organizar, do movimento estudantil que ia às ruas pelas reformas de base. Principalmente o fantasma do crescimento do movimento operário, de seus sindicatos, das Ligas Camponesas e de um incipiente movimento entre militares subalternos, sem excluir a oficialidade democrática, do que é prova o expurgo feito nas Forças Armadas depois do golpe. Vivíamos essa efervescência política canhestramente, ingenuamente, acreditando que era preciso forçar Jango a deixar de lado suas conciliações com o imperialismo, realizar as reformas, mas sempre legalmente, parlamentarmente. Os vencedores esmagaram a sempre incipiente democracia brasileira, destruíram as organizações sindicais e sociais, eliminaram os líderes políticos dos movimentos populares, prendendo-os, obrigando-os ao exílio ou assassinando-os na tortura. A ditadura civil-militar iniciou a destruição do sistema educacional público, desarticulou os movimentos sociais esgarçando o próprio tecido social. Fez com que toda uma geração passasse sua juventude em meio ao terror, à censura, sem ter ideia do que é democracia, reivindicação e luta popular. Estabeleceu a autocensura e, pior que tudo, lançou o descrédito sobre as organizações e lideranças populares, com o que contou com as teorizações de seus intelectuais de plantão. Legou-nos uma juventude desesperançada, sem perspectivas, e todo o cortejo de violência daí decorrente. E, a partir do descrédito nas organizações populares (partidos políticos, sindicatos etc.), que estariam superadas, alimentou uma profunda individualização. Nestes 50 anos do golpe civil-militar, gostaria de saudar o relançamento, pela editora Intrínseca, dos quatro volumes sobre a ditadura civil-militar de Elio Gaspari: A ditadura envergonhada, A Nos 50 anos do golpe de 1964 63