1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 64

lado pelos grandes empresários e banqueiros, com grande ajuda financeira dos Estados Unidos. Há pouco tempo, em entrevista à Globo News, o então embaixador americano no Brasil, o senhor Lincoln Gordon, declarou que os Estados Unidos haviam investido aqui, nos anos de 1962-63, em ajuda aos que tramavam a derrubada de Jango, cerca de seis milhos de dólares (que correspondiam a muito mais à época). Impossível deixar de comparar tal quantia com os minguados 20 mil dólares com que Moscou, em 1935, sustentava aqui um grupo de militantes da Internacional... Situo os erros que cometemos por ocasião do golpe no terreno da falta de compreensão do que ocorria no país, da não percepção da trama golpista, justamente porque se acreditava que o golpe não tinha mais terreno para ocorrer (“O imperialismo está derrotado: se a reação levantar a cabeça nós a esmagaremos”, dizia Prestes a 25 de março de 1964); que a maioria democrática da nação podia contar com o Exército Nacional, ele também nacionalista e democrático (daí a crença imobilizadora de que o “esquema militar” de Jango garantiria a legalidade democrática); por minimizar o desenvolvimento capitalista do país e a contradição que ele criava entre capital-trabalho, cuja resolução seria necessária para resolver os problemas do pais (ver V e o VI Congressos do PCB, respectivamente em 1960 e 1967). A direita golpista tentou montar seus argumentos, como sempre mentirosos, mas bem articulados o bastante para seduzir com eles até quem se considera de esquerda. Ninguém com razão, boa fé e um mínimo de conhecimento acreditaria num golpe tramado pela esquerda para instaurar a república comuno-sindicalista. Se alguma proposta tinha a esquerda era a de levar ao poder a burguesia nacional, a grande aliada da etapa revolucionária que se estaria vivendo, e concretizar as reformas de base. Nunca é demais lembrar que também em 1937, com o partido comunista dizimado e seus dirigentes presos, o golpe do Estado Novo foi justificado pela “iminência de um golpe comunista, seguindo ordens de Moscou”, segundo o famoso “Plano Cohen”. Também é bom lembrar que as reivindicações dos marinheiros em 1964, exigidas por sua associação, que a Marinha negava-se 62 1964 – As armas da política e a ilusão armada