1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 58
diante de um fato que não estava previsto em seus cálculos, ficando
hemiplégicas ao anunciar-se o movimento militar nas Alterosas
(...). Toda a tática dos concorrentes progressistas e do próprio
governo Goulart encontrava-se apoiada numa base falsa: não havia
uma justa análise da correlação de forças e do desenrolar do
processo (TAVARES, 1966, p. 33, grifo do autor).
Democracia sustada
O movimento político-militar triunfante, que suspendeu,
indefinidamente, o ainda incipiente processo de renovação democrática, expressou, de fato, o desenlace da polarização de forças –
acirrada continuamente no início dos anos 1960 – envolvendo
duas alternativas de projetos sociopolíticos muito diversos.
A primeira, vitoriosa – implicando, em grande medida, na
continuidade de um processo histórico excludente e antidemocrático, opressor e iníquo que marcou o país desde a fundação do
Estado Nacional no século XIX e que persistiu na República de
1889/1930-37 – procurava readequar o poder estatal aos padrões de
desenvolvimento capitalista implantado nos anos 1930, reelaborado
e potencializado com o Plano de Metas no governo Juscelino Kubitschek; vinha sendo incubado na Escola Superior de Guerra (ESG),
desde sua fundação, em 1949, norteado pela Doutrina de Segurança
Nacional – forjada nos Estados Unidos no pós-guerra – e, no início
dos anos sessenta, também no Ipes/Ibad.
Já a segunda, abortada, tinha o intuito de reversão daquele
processo histórico, criando pressupostos e/ou condições que
possibilitassem a redenção sociopolítica das classes e camadas
sociais subalternas, a democratização do Estado e suas relações
com a sociedade civil, a expansão dos direitos de cidadania, o estabelecimento de um capitalismo nacional e autônomo com forte
direcionamento estatal, por meio de uma série de reformas e transformações – vinha sendo gestada em várias instituições, como a
Cepal, o Iseb, o PCB e outras.
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