1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 485

OS COMUNISTAS, A ABERTURA E A DEMOCRACIA1 Giocondo Dias2 O processo político que se desenvolve em nosso país é um processo único, resultante das lutas e das convergências entre os diferentes setores da sociedade. Não há dois processos paralelos, estanques, um do governo e outro das oposições. Neste processo único, registram-se certamente tendências contrapostas; a predominante, no momento, é a que se convencionou chamar de abertura. Mas há abertura e abertura. Seria um equívoco identificar mecanicamente o processo objetivo da abertura, que nos parece ser a tendência dominante, com o projeto de “abertura” tal como foi formulado e vem sendo posto em prática pelos setores dominantes do “sistema”. A abertura que estamos vivendo resulta, em grande parte, da resistência ao arbítrio – desde abril de 1964 – pelas forças políticas e sociais derrotadas pelo golpe: E esta abertura é a expressão e o resultado da luta convergente de setores amplos e diversificados da sociedade brasileira, que vão desde a classe operária e suas organizações até empresários nacionais. Desta abertura, da luta para torná-la realidade, nós – comunistas – sempre procuramos participar. Já o limitado projeto de “abertura” do regime, concebido como um conjunto de medidas impostas de cima para baixo, tem 1 2 Voz da Unidade, 17/10/1980. Baiano de Salvador (1913-1987), cabo do Exército, foi um dos responsáveis pela organização da única insurreição militar vitoriosa da Intentona de 1935 e que resistiu por quatro dias, ocorrida em Natal/RN (as outras duas ocorreram, mas derrotadas, no Recife/PE e no Rio de Janeiro/RJ), e um dos mais importantes dirigentes do PCB, com uma rica trajetória de mais de meio século de integral dedicação à causa comunista. 483