1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 484

cias o choque armado, sob a forma de autodefesa. No VI Congresso, a eventualidade de um confronto podia acontecer. E o Partido se preparou para isto. Infelizmente, na desmobilização do esquema, ao desativar uma granada o companheiro Salomão Malina, herói da Segunda Guerra mundial, teve a mão direita decepada. (...) Neste seminário existe a proposta que nunca mais a gente esqueça o que aconteceu conosco. Acho que nós – incluo-me também – estamos sendo incompetentes para trazer à nossa frente as pessoas para as quais devemos nos dirigir e dizer o que aconteceu. A ditadura militar acontecida no Brasil foi o episódio político mais nefasto do século passado para a nossa nação. Vou mais além, em toda a nossa história, dois acontecimentos foram tristemente horríveis: a escravatura, que durou trezentos anos; e o Golpe Militar que durou 20/21 anos. Atrevo-me a dizer que o requinte de crueldade dos golpistas de 64 superou a perversidade dos senhores de escravos. Aqui nesta sala, no meio de vocês, há um camarada, chamado Hilário Gonçalves Pinha, que tem 80/90 centímetros de intestino, porque seu aparelho digestivo foi amassado na porrada, nos porões da ditadura. Ele fez treze cirurgias para conseguir ficar com essa pouca centimetragem de intestino e tem de se alimentar periodicamente para que haja a assimilação de nutrientes por parte de seu organismo. Ele veio de São Paulo e aqui foi preso pela Polícia. (palmas) Outro fato doloroso, escabroso, foi o que aconteceu com o nosso companheiro Mário Alves – quando digo nosso companheiro é porque era comunista também e jornalista. Foi um dos dissidentes do Partido Comunista que optou pelo caminho armado. Nós, em relação aos que optaram pelo caminho armado, ainda que tenhamos a convicção de que se equivocaram, temos por eles o maior respeito, pois deram a vida pelo caminho que supunham ser o correto. Mas Mário Alves terminou preso, foi massacrado no Cenimar, na Marinha. Morreu! Sabem como morreu? Empalado, com um cabo de vassoura introduzido no ânus até a garganta.. A esses companheiros que, generosamente, deram o seu sangue, a sua vida, pela liberdade, peço uma salva de palmas. 482 1964 – As armas da política e a ilusão armada