1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 474

lares vetavam o candidato do PSD (Kubitschek), por considerar sua eleição como um retrocesso inconcebível. Brizola era inelegível e muito radical para as próprias forças que compunham o governo; as aspirações prematuras de Miguel Arraes eram, também, outro fator de dificuldades. O mais grave, porém, foi o entendimento surgido, nos últimos meses de 63, que a melhor solução seria a tentativa de reeleger-se o sr. João Goulart, o que esbarrava em óbices legais intransponíveis. Assim, a continuação de Jango assumia a nítida feição de saída extraconstitucional. Essa solução tentadora, desligada do sereno exame do quadro político concreto e da real correlação de forças, foi a perdição do governo Goulart. Quando isso ficou claro para as forças políticas, ele foi automaticamente isolado. A acusação de continuísmo e de tentativa de subverter a ordem legal fez desmoronar o dispositivo militar oficial, já enfraquecido com a "rebelião dos sargentos". Um dos poucos que sentiram, com antecedência, a necessidade de impedir-se o crescente isolamento de Goulart foi o sr. San Tiago Dantas, com a tentativa, na undécima hora, de estruturar uma "frente ampla". A ideia fracassou porque tanto Jango como vários setores das correntes progressistas desejavam uma frente popular, na qual não poderia caber o PSD e seu natural candidato. Nos últimos meses de 1963, observava-se a promoção de uma intensa campanha, através de vários instrumentos de propaganda, contra o governo constitucional. Essa anomalia em nossos hábitos politicos vinha desde 1962, quando foram criados o Ibad (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e o Ipes (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais), peças-chave da luta contra as correntes nacionalistas. Um engenhoso sistema de obtenção de fundos (sacados particularmente das grandes empresas estrangeiras) financiou a ação das correntes reacionárias. No pleito de 1962 se comprovou, cabalmente, a ingerência desses órgãos, que forneceram pingues recursos a candidaturas que assumiram compromissos com programas antinacionalistas. A denúncia da ação do Ibad, feita no curso de 1963, não teve o condão de desbaratar completamente a máquina publicitária a 472 1964 – As armas da política e a ilusão armada