1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 471

A luta política A disputa pelo poder no Brasil é intensa. Tal fenômeno deriva e é reflexo da situação histórica marcada pelo ascenso de certas classes e camadas que enfrentam forças tradicionais. Não por acaso, temos entre 1954 e 1965, excluindo-se ocupantes eventuais, seis presidentes da República. Um único deles, o sr. Juscelino Kubitschek, conseguiu completar seu quinquênio, o que talvez tenha se devido ao grande desenvolvimento da economia então verificado, que propiciou um clima de menor instabilidade política. O certo é que, para desgosto dos amantes da tranquilidade, a vida brasileira é costumeiramente sacudida por crises, que reflete menos o espírito atribulado da nação do que sua instabilidade social e política. Na verdade, o desenvolvimento capitalista é o responsável maior por tal comoção. Uma estrada asfaltada que rasga os sertões rompe ao mesmo tempo o véu das relações obsoletas. O tradicionalismo é corroído, a cada hora, pela afirmação do novo, embora manifeste seu desespero e tenha ainda energias para barrar, por certo tempo, o curso do processo. Na fase anterior ao golpe, as forças progressistas encontravam-se em constante crescimento. Avalia-se tal avanço pela vitória de teses anteriormente repudiadas nos meios oficiais. "Política externa independente", "desenvolvimento econômico", "planejamento", "intervenção estatal na economia", "reformas de base", "nacionalismo e libertação nacional", essas eram as palavras que, pouco a pouco, foram dominando o panorama político e sua motivação ideológica encheu o cenário nacional. Mesmo após o golpe de abril, os governantes foram obrigados a aceitar a validade de algumas delas e daí a preocupação em fazer votar, por exemplo, um "Estatuto da Terra". Voltemos, no entanto, à análise da fase que antecedeu ao golpe. Acentuávamos o ascenso vertiginoso das forças populares. Nunca em nossa história, as forças progressistas, tanto haviam se aproximado do poder, embora tenha contribuído para isso a renúncia do sr. Jânio Quadros. Mas, se não tivesse ocorrido a Causas da derrocada de 1° de abril de 1964 469